Bacafá

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domingo, 29 de agosto de 2010

Discurso sobre o preconceito.

Vi no Blog da Daniela Felix e resolvi postar aqui, pois muito tenho recebido, nesse período eleitoral, por email, sobre a ignorância do Lula e a violência da Dilma. Algumas coisas chegam a ser hilárias de tão absurda, e as pessoas tratam como se fosse verdade. Outras deveriam ser melhor analisadas em face do tempo e das circunstâncias em que ocorreram. Ainda não decidi meu voto, mas é importante que as coisas sejam analisadas com consciência e sem preconceito. E não somente nas eleições, e, sim, sempre, no nosso dia-a-dia.



"A doença pior que existe na humanidade é o preconceito. E eu sei quanto preconceito eu fui vítima nesse país.Hoje eu brinco com o preconceito. Hoje eu falo “menas laranja” as pessoas acham engraçado, mas quando eu falava em 89 (1989), eu era um “analfa” (analfabeto). Pois a ignorância dos que me achava analfa era o de confundir a inteligência com o conhecimento e o aprendizado no banco da escolaridade.

A ignorância, a ignorância de algumas pessoas que achavam que só tinha valor aquilo que vinha de fora. É americano? É maravilhoso! É europeu? É extraordinário! É chinês? É fantástico! É japonês? É nun sei o quê lá!… E se comportavam como se fossem cidadãos de segunda classe ou verdadeiros vira-latas que não se respeitavam porque não tinha auto-estima por si mesmo.

Ah! Quantas vezes me fizeram… Eu lembro Zeca (do PT), como se fosse hoje; uma vez eu estava almoçando na Folha de São Paulo; um diretor da Folha de São Paulo perguntou pra mim: “escuta aqui, ô candidato: o senhor fala inglês?” Eu falei: Não. “Como é que o senhor quer governar o Brasil se o senhor não fala inglês?” Eu falei: mas eu vou arrumar um tradutor. “Mas assim não é possível. Não é possível. O Brasil precisa ter um presidente que fala inglês.” E eu perguntei pra ele: Alguém já perguntou se o Bill Clinton fala português?

Não. Mas eles achavam, eles achavam que o Bill Clinton não tinha a obrigação de falar português. Era eu, o subalterno, o país colonizado que tinha que falar inglês e não eles falar português.
Teve uma hora Zeca, que eu me senti chateado e me levantei da mesa e falei: eu não vim aqui pra dar entrevista. Eu vim pra almoçar. Se isto é uma entrevista eu vou embora. Eu levantei, larguei o almoço, peguei o elevador e fui embora. Vou terminar o meu mandato Zeca, sem precisar ter almoçado em nenhum jornal, em nenhuma televisão pra terminar o meu mandato. Também nunca faltei com o respeito com nenhum deles. Já faltaram com o respeito comigo. E vocês sabem o que fizeram comigo. Se dependesse de determinados meios de comunicação eu teria zero nas pesquisas e não 80% de bom e ótimo que nós temos nesse país.

Eu companheiros e companheiras, sou um homem que agradeço a Deus pela generosidade que Ele teve comigo. E agradeço a vocês porque um dia, vocês tiveram a mesma consciência que a maioria negra da África do Sul teve ao eleger um negro que representava 26 milhões de pessoas, sendo dominados por 6 milhões de brancos, vocês um dia tiveram a mesma consciência que os negros da África do Sul que elegeram Nelson Mandela para presidente da República daquele país depois de 27 anos de cadeia. Vocês tiveram consciência de eleger um metalúrgico, que tinha perdido muitas eleições por ser igual a maioria do povo, e o povo não acredita que seria capaz de dar a volta por cima, o povo não acreditava porque nós aprendemos a vida inteira que nós éramos seres inferiores, e pra governar esse país tinha que ser usineiro; tinha que ser fazendeiro; tinha que ser advogado; tinha que ser empresário; tinha que ser doutor e mais doutor. Um igual a gente não poderia governar o país. Nós não sabemos governar. Muito menos um coitado de um bancário (referindo-se a Zeca do PT). Se coloca no seu lugar bancário, porque este país é pra ser governado por banqueiro e não por bancário. Se coloca no seu lugar mulher, porque este país é pra ser governado por homem e não por mulher. Se coloca no seu lugar metalúrgico, porque este mundo não é pra ser governado por aqueles que moram no andar de baixo, mas por aqueles que moram no andar de cima. É assim que a escola ensinou. É assim que a sociologia ensinou.

É assim que nos ensinaram a vida inteira até que um dia, eu lendo um poema de Vinícius de Morais: “um operário em construção”, eu aprendi que um operário poderia dizer não. E quando ele disse não!, a lógica perversa que estava montada nesse país, é verdade que eu perdi três eleições, mas é verdade que eu já ganhei duas eleições seguidas e vamos ganhar a terceira eleição com essa companheira mulher (Dilma) presidente da República".

Por Luiz Inácio Lula da Silva, em 25 de agosto de 2010, Mato Grosso do Sul, por ocasião da Campanha Eleitoral de Zeca (do PT) ao Governo Estadual.

Um comentário:

Daniele disse...

Posso estar equivocada, mas na minha inocente visão de política, acreditava que o Presidente da Repíblica não era partidário, pois representa um povo, não uma classe específica. Deste modo torna controverso o fato de o mesmo apoiar intensamente a candidata à presidencia Dilma, pois como disse, não deveria ter uma opinião formada, sabendo que esta opinião é capaz de influênciar milhões de brasileiros.