Bacafá

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quinta-feira, 14 de abril de 2016

Telhado de vidro.



                   Um dos textos que mais me fez refletir na minha vida adulta é de um jaraguaense. “A falácia do telhado de vidro”, do advogado e professor Darwinn Harnack, de 2010. Lembrei dele no meio desta fuzarca que virou nossa política e as discussões de botequim. Cabe bem aqui, em dois aspectos, a meu ver.

                   Primeiro: “Todo o ser humano comete erros e é falível. Disso não restam quaisquer dúvidas. Porém, o escudo hoje tão utilizado do “não jogue pedras...” tem fundamentado uma atitude não recomendável de passividade perante os fatos da vida. Se todo o ser humano erra, isso não é motivo para deixar de se defender um padrão de conduta correto e voltado para o bem. Quem erra deve aceitar a crítica devida, mas não perde, por isso, o direito de também cobrar a correção da conduta alheia. Fosse assim, ninguém poderia criticar mais nada. Essa ideia é falaciosa e induz à passividade que tanto interessa a quem assume uma posição de comando, seja em uma instituição ou mesmo no Estado. Em outras palavras, não é porque alguém cometeu um ou mais deslizes na vida que está fora da órbita dos chamados “homens de bem”, que podem criticar e cobrar os demais. Todos têm esse direito e o “homem de bem” de hoje, pode ser o errado amanhã.”

                   De outro norte, o próprio contrapõe: “É bem verdade que o ataque irracional contra alguém que cometeu um erro na vida, constitui atitude leviana e própria de quem não calça mentalmente as sandálias do próximo antes de se pronunciar”. O professor tem razão nas duas colocações. Passividade a obscuros interesses alimenta. Raiva a nenhum lugar leva.

                   Está-se vendo, porém, a pessoalização nas discussões dos problemas que assolam nosso país. Poucos têm trazido soluções, muitos têm descarregado, com evidente ira, ataques irracionais claramente papagaiando o “que ouviram dizer”, às vezes sem a mínima noção do que repetem.

                   O momento é grave, o debate é necessário, o conhecimento de causa é fundamental e a reflexão é essencial. Independentemente de como terminar esta triste página da nossa história.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

O código de honra.



                   Vivemos uma fase ímpar no Brasil. É, não tenho dúvidas, um momento de libertação. Independentemente do lado que se esteja, estamos passando por um processo de depuração política. Caindo ou não a Presidente da República ou o Presidente da Câmara, ou mesmo o do Senado, não se enganem os sobreviventes de que estarão a salvo do crivo popular. Uma nova era chegou. E creio que será diferente da apatia que se deu pós-1992.

                   Lendo “O código de honra: como ocorrem as revoluções morais”, do filósofo contemporâneo Kwane Anthony Appiah, no capítulo que trata do fim da escravidão atlântica, há lições que muito bem se aplicam a nossa realidade, embora discutidas nos anos 1820 pelos britânicos: “a informação às classes mais humildes sobre o tema em questão não é trabalho perdido, ao contrário de grande parte do que se dedica a seus superiores em cultura e posição”. Embora o próprio autor reconheça certa polêmica nesta afirmação, verificava-se que as classes médias e altas “tinham consciência dos horrores da escravidão e mesmo assim não faziam nada”. Pergunto-me se se aplica essa assertiva ao Brasil em relação aos horrores da corrupção, em tempos modernos? E estendo este questionamento às “pequenas corrupções” do dia-a-dia, como estacionar indevidamente na vaga de idoso, não devolver o troco a maior dado errado, jogar lixo na rua, furar fila, comprar cd pirata e por aí afora.

                   Continuando o raciocínio comparativo, ainda segundo o livro, nos anos 1830, na Inglaterra, houve manifestações que levavam cerca de 200 mil pessoas para comícios sobre reformas políticas, sendo que “o Parlamento se acostumou com a nova ideia de que devia responder aos julgamentos da nação – e não os direcionar”. O autor complementa o pensamento da época com um comentário de Disraeli, talvez, digo eu, com uma pitada de preconceito: “uma aristocracia esclarecida, que se colocou à frente de um movimento que não se originou dela, deveria ter corrigido, e não sancionado, os erros virtuosos de uma comunidade bem-intencionada, mas de mentalidade estreita”.

                   Já se vão quase 200 anos e a história parece, em sua essência, se repetir, em lugar e por motivos diferentes. Precisamos refletir.