Bacafá

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quarta-feira, 6 de abril de 2016

O código de honra.



                   Vivemos uma fase ímpar no Brasil. É, não tenho dúvidas, um momento de libertação. Independentemente do lado que se esteja, estamos passando por um processo de depuração política. Caindo ou não a Presidente da República ou o Presidente da Câmara, ou mesmo o do Senado, não se enganem os sobreviventes de que estarão a salvo do crivo popular. Uma nova era chegou. E creio que será diferente da apatia que se deu pós-1992.

                   Lendo “O código de honra: como ocorrem as revoluções morais”, do filósofo contemporâneo Kwane Anthony Appiah, no capítulo que trata do fim da escravidão atlântica, há lições que muito bem se aplicam a nossa realidade, embora discutidas nos anos 1820 pelos britânicos: “a informação às classes mais humildes sobre o tema em questão não é trabalho perdido, ao contrário de grande parte do que se dedica a seus superiores em cultura e posição”. Embora o próprio autor reconheça certa polêmica nesta afirmação, verificava-se que as classes médias e altas “tinham consciência dos horrores da escravidão e mesmo assim não faziam nada”. Pergunto-me se se aplica essa assertiva ao Brasil em relação aos horrores da corrupção, em tempos modernos? E estendo este questionamento às “pequenas corrupções” do dia-a-dia, como estacionar indevidamente na vaga de idoso, não devolver o troco a maior dado errado, jogar lixo na rua, furar fila, comprar cd pirata e por aí afora.

                   Continuando o raciocínio comparativo, ainda segundo o livro, nos anos 1830, na Inglaterra, houve manifestações que levavam cerca de 200 mil pessoas para comícios sobre reformas políticas, sendo que “o Parlamento se acostumou com a nova ideia de que devia responder aos julgamentos da nação – e não os direcionar”. O autor complementa o pensamento da época com um comentário de Disraeli, talvez, digo eu, com uma pitada de preconceito: “uma aristocracia esclarecida, que se colocou à frente de um movimento que não se originou dela, deveria ter corrigido, e não sancionado, os erros virtuosos de uma comunidade bem-intencionada, mas de mentalidade estreita”.

                   Já se vão quase 200 anos e a história parece, em sua essência, se repetir, em lugar e por motivos diferentes. Precisamos refletir.

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