Há pouco menos de dois anos escrevi sobre uma imagem que vi na televisão, em manchete de um determinado jornal escrito: estampada na matéria estava a fotografia de uma janela com uma parede pelo lado de dentro. Pareceu-me, naquele momento, muito mais um muro. Foi a defesa que a família daquele apartamento encontrou contra os riscos de uma bala perdida de, talvez, endereço certo.
Naquela época já fiquei pensando aquilo que todos (ou quase) costumamos pensar nessas horas: em que mundo estamos? O cidadão compra um apartamento com janela justamente para não se sentir completamente trancado, completamente privado da vida do lado de fora. Para poder apreciar alguma coisa na rua ou no céu de vez em quando. Dar uma respirada, ou simplesmente ficar lá, com ou sem olhar fixo. Uma fuga dos pensamentos ou de si mesmo. Não interessa o motivo; o que interessa é que a janela está lá para isso.
Ou estava.
Não sou morador de cidade grande. Conhecemos, todos que moramos por aqui, as diversas limitações que, em realidade, não nos impedem de viver, apesar da criminalidade crescente, de um presídio superlotado em constante ebulição justamente por conta da superlotação, de um efetivo de polícia civil e militar muito aquém do desejável e de um Poder Judiciário assoberbado.
Naquela época, por volta de meados de 2009, ouvi o Secretário de Segurança Pública de Santa Catarina falar que segurança é uma questão de sensação. Sentimo-nos ou não sentimo-nos seguros. Tem gente que se sente segura em São Paulo ou no Rio de Janeiro e tem gente que se sente insegura em Jaraguá do Sul ou Pomerode. Concordo com o Secretário que esse pode ser um fator pessoal.
Mas não podemos esquecer que essa tal sensação de insegurança está aumentando progressivamente. A cada dia mais gente se sente insegura. Realmente é uma sensação pessoal, mas que já passou a ser coletiva, de muitas pessoas.
Condomínios fechados e com altas grades. Interfones, câmeras, alarmes. Celulares para acompanhar passo a passo ou minuto a minuto por onde os filhos andam. Preocupações cada vez mais sérias com horários noturnos. Não dá sequer para imaginar namorar em um carro como se fazia não muito antigamente. Nem no Rio de Janeiro nem em Jaraguá do Sul. E agora, o cúmulo do medo: janelas muradas.
Volto ao assunto agora porque nesta última segunda-feira assisti, na plenária da Associação Comercial de Jaraguá do Sul, a uma apresentação do comandante do GRAER – Grupo de Radiopatrulhamento Aéreo da Polícia Militar de Santa Catarina, de Joinville.
O Grupo é eficiente, atendendo a diversas situações, desde resgates até acompanhamento em perseguição de bandidos. Infelizmente para toda a região norte e nordeste de Santa Catarina, englobando 45 cidades, há apenas um helicóptero.
Segundo o comandante, no primeiro ano de operações do GRAER em Joinville, no ano de 2001, os furtos a veículos durante o dia reduziram 100%. Isso é fantástico e todos na plenária se animaram. Ocorre que o próprio comandante concluiu que boa parte desses furtos mudaram de turno: foram para a noite.
Não acho isso engraçado e nem estimulante. Tal situação apenas aumenta meu ceticismo quanto às questões de segurança, por conta de freqüentes promessas e poucos resultados. Quantos secretários já passaram por Jaraguá do Sul prometendo mundos e fundos? Há, claro, muita expectativa com o novo Secretário de Segurança, ao qual devemos dar um voto de confiança, pois está há pouco tempo no cargo.
O problema é que falta de soluções cansa.
E aí me pergunto: afinal, pra que janela? Pra ver pássaros voando? Nuvens formando caricaturas no céu azul? Folhas verdes balançando ao vento nas árvores? Crianças jogando bola e correndo na rua? A vizinha descuidada do prédio da frente? Os aposentados jogando dominó na praça? Pra respirar um pouco de peito aberto depois de um dia estafante de trabalho? Pra expirar pra fora a fumaça do cigarro fumado? Pra simplesmente tomar um ar? Pra que janela?
Daqui a pouco vamos morar encaixotados em bunkers.
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