Bacafá

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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Contos de quinta: Dilemas da vida moderna.

- Indiferente.
- É?
- Iceberg.
- Gelada?
- Inacessível.
- Intangível?
- Isso! Intangível. Uma excelente palavra. É isso mesmo. Intangível.

Depois de alguns instantes de silêncio, o segundo pergunta:

- E daí?
- Boa pergunta. E daí? ... Irritante.
- Irritante?
- É. Essa situação.
- Você que escolheu.
- Eu não. Ela me escolheu.
- Ela quem?
- A situação. Eu estava parado. Na minha. Quietinho. Bebendo a minha cervejinha com os amigos, jogando o meu futebolzinho dos finais de semana, pegando a prainha de sempre. E, de repente...
- É a vida meu amigo. Mais dia menos dia isso acontece com todo mundo. Você não seria a exceção.
- Mas eu não estava preparado. Ou melhor, não estou. Ainda tenho muito pra ver, pra conhecer, pra entender.
- Então, o que vai fazer?
- Não sei. Ainda não sei. Só sei que do jeito que está não dá pra continuar.
- Nisso concordo plenamente. Você vai ter que tomar uma decisão, definir essa situação. Por outro lado, raciocina comigo. Não tem como negar. Cadê seus velhos hábitos? A prainha, o futebolzinho, a cervejinha com os amigos?
- Pois é...
- Esse é o primeiro sintoma, por mais que você queira negar.
- Só eu não, todos nós, né cara-pálida?
- Tudo bem, todos nós. Mas agora é a sua vez, o problema é seu, você está passando por isso. Estamos diagnosticando você, não todos nós.
- Já entendi.
- Tá gostoso?
- O pior é que tá.
- Vê o lado bom, rapaz, você poderia estar sofrendo.
- Mas também estou sofrendo.
- Tudo bem, isso também é normal nessa fase.
- Algum problema de relacionamento, digo, com os velhos conhecidos?
- Tenho, sim. Tenho andado cabisbaixo, não sinto coragem de encarar as pessoas.
- Por que?
- Bem...
- Vamos, cara, se abre comigo. Sou seu amigo ou não sou? Me chamou pra quê?
- Bem... é que você é meu amigo, realmente, e, afinal, já passou por isso.
- Sei, então fala, está andando de cabeça baixa por que?
- Medo de quando encarar as pessoas, elas perceberem que estou com um sorriso estampado no rosto.
- Com tempo as pessoas se acostumam, não precisa se preocupar com isso. Tente agir naturalmente. Muitos nem vão notar essa alegria repentina, essa alegria, eu diria, estampada no seu rosto.
- Isso eu disse.
- E dói?
- Como?
- Eu perguntei se dói.
- Agora que você falou, acho que dói sim. Bem lá no fundo.
- Bem lá no fundo?
- É, bem lá no fundo, mas, estou meio confuso, parece que vem misturada, essa dor, com um pouco de prazer também.
- Lá no fundo, com prazer?
- É, sabe, lá no fundo do peito, não sei direito explicar, parece nostalgia. Isso mesmo, nostalgia. As lembranças dos amigos, das bebedeiras, das peladas de meio de semana.
- Faz sentido, afinal, agora isso tudo está a perigo.
- É verdade.
- De todo modo, tudo isso só vem confirmando que você não tem mais jeito.
- Você acha?
- Tenho certeza.
- Absoluta?
- Toda certeza é absoluta, senão não seria certeza.
- E o que faço, então?
- Assume.
- Assim, de uma hora pra outra, no seco?
- Se você quiser a gente pode pedir mais uma rodada de cerveja. Você que está pagando mesmo.
- Já que não tem mais jeito, mesmo.
- É, meu amigo, meus pêsames. Bem-vindo ao barco. Você está irremediavelmente apaixonado. Quantos anos ela tem, mesmo?
- 32.
- E faz o quê?
- Advogada.
- Ihhhh, que roubada, meu amigo. Tanta mulher por aí e vai se apaixonar logo por uma advogada.
- Mas ela é linda.
- E indiferente.
- Sim.
- E inacessível.
- Sim.
- Um iceberg.
- Sim. Ela simplesmente não me dá bola. Faz de conta que não é com ela, que não existo.
- E o que você pretende fazer?
- Ir à luta.
- É assim que se fala, mas cuidado para não ir com muita sede ao pote. Não se esqueça que ela é uma advogada.
- Parado é que não posso ficar. Vou correr atrás, conquistá-la. Você vai ver.
- Então só posso lhe dizer uma coisa.
- O quê?
- Boa sorte!

Um comentário:

Anônimo disse...

Suspeitei desde o principio kkkk que tinha mulher no meio kkkkk que tal colocar que é academica de Direito e não advogada e que ela senti uma Atração por você só não pode admitir rss pensa nisso ;)