Bacafá

Bacafá

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Contos de quinta: O corpo.

O corpo.

Ele estava ali no chão, mergulhado em sangue. Arrumado como se fosse sair, para uma balada, talvez. A imagem era sufocante. O telefone tocou e eu não sabia se deveria atender ou simplesmente deixar tocar até alguém do outro lado se cansar. Parou. Em menos de um minuto voltou a tocar. Parece que o alguém do outro lado desistiu definitivamente. Estava escuro naquela sala, mas no sangue brilhava o reflexo da luz do poste da rua. Ao longe uma sirene. Fiquei em dúvida se deveria ficar e tentar explicar o inexplicável ou se deveria fugir sem sequer olhar para trás. No bolso da minha calça achei um pedaço do papel com um número de telefone. De repente tive a impressão que ele se mexeu. Deve ter sido apenas impressão mesmo. Ou algum reflexo post mortem que um médico explicaria facilmente. Alguém bateu na porta. Três batidas secas e fortes. Será que é a mesma pessoa do telefone? Aquele número no papel, na minha mão. O alguém bateu novamente. Mais forte agora. Três batidas ainda. Escutei um barulho de vidro quebrando. Uma janela provavelmente. Saí correndo da sala, achei uma porta nos fundos. Fugi sem olhar para trás.

Ele estava ali no chão, mergulhado em sangue. De pijama, como se tivesse sido atingido ao acordar. A imagem era estranha. O telefone tocou e eu não sabia se deveria atender ou simplesmente deixar tocar até alguém do outro lado se cansar. Parou. Estava escuro naquele quarto, mas no sangue brilhava o reflexo da luz do poste da rua. O telefone voltou a tocar. Parou. Parece que o alguém do outro lado desistiu definitivamente. Ao longe uma sirene. Não distingui se era da polícia ou de ambulância. Em cima da cama eu vi um pedaço de papel com um número de telefone. De repente tive a impressão que a mão dele havia tocado minha perna. Espero que tenha sido só impressão. Não saberia explicar o inexplicável. Alguém bateu na porta. Três batidas fortes e secas. Será a mesma pessoa do telefone? Aquele número em cima da cama. Peguei o papel. Ouvi o barulho do vidro de uma janela quebrando. Olhei pra trás e saí correndo pela porta dos fundos.

Ela estava ali no chão, mergulhada numa poça de sangue. De lingerie. Não sei se estava se arrumando para sair para a balada ou se despindo para dormir. A imagem era triste. O telefone tocou e eu não sabia se deveria atender ou simplesmente deixar tocar até alguém do outro lado se cansar. Parou. Em menos de um minuto voltou a tocar. Parece que o alguém o outro lado desistiu definitivamente. Estava escuro naquele quarto, mas no sangue brilhava o reflexo do relógio digital ao lado da cama. Ao longe uma sirene. Fiquei em dúvida se deveria ficar e tentar explicar o inexplicável ou se deveria fugir sem sequer olhar para trás. Em cima da cama as roupas dela. Belas e caras roupas. De repente tive a impressão que ela tinha lambido minha canela. Era um filhote de lhasa apso que saiu debaixo da cama. Não latiu, só olhou para mim. Alguém quebrou o vidro de uma janela com uma batida forte e seca. Será a mesma pessoa do telefone? A sirene estava mais perto. O cachorro voltou pra baixo da cama. Tentei alcançá-lo, mas não consegui. Peguei a arma e saí correndo pela porta dos fundos.

Acordei.

Um comentário:

Kauana disse...

Ótimo Rapha! Mistura de suspense e diversão.... mas, sabe, eu odeio quando sonho a noite toda o mesmo sonho!! Me irrita!! kkk