O estranho caso do besouro gigante - Parte final. (Parte I - clique aqui)
Durante alguns segundos nenhum dos dois se mexeu. Enquanto o menor continuava paralisado, o inseto foi se reaproximando. Encostou novamente no cidadão, como se quisesse mostrar alguma coisa. Como se quisesse se comunicar. Foi o empurrando devagar. Saíram do beco onde estavam e foram caminhando. No inicio o cidadão estava andando de costas. Depois andaram lado a lado.
Quando o cidadão se deu conta já estava em frente a sua casa. Teve uma estranha sensação de que se comunicava mentalmente com o bizarro bicho. Abriu o portão rangente e entrou na frente. O inseto passou um pouco pelo espaço aberto, um pouco por cima do pequeno muro de tijolos à vista.
Ao subir os quatro degraus que davam para a varanda de sua casa, o cidadão se virou e ficou olhando o monstro. Voltou os olhos para a porta e novamente para o bicho. Calculou mentalmente o tamanho do inseto e imaginou se passaria pela porta. Entrou em casa, acendeu as luzes e ficou esperando. O besouro gigante foi se aproximando aos poucos, espremeu-se pela porta e entrou, derrubando alguns enfeites que estavam na mesa na parede ao lado da porta.
Depois de olhar para os cacos, o bicho se acomodou em um dos sofás da sala. O maior. O cidadão pegou uma cerveja na cozinha e voltou pra sala, sentando em uma poltrona de frente para o esquisito bicho em sua esquisita posição.
- Precisamos de um nome pra você – falou em voz moderada.
O inseto continuou olhando para o cidadão bebendo cerveja.
- Mas... que nome? Rubro-negro? Gigante? Zé? Não, não... não combinam com você. Você é muito bizarro... É isso, hehe... acho que é isso mesmo. Bizarro. Seu nome, daqui em diante, é Bizarro.
O cidadão pegou uma tigela de plástico, encheu de cerveja e deu para o Bizarro beber, enquanto entornava a sua segunda garrafa. Ligou a televisão e ficaram vendo aquelas séries americanas antigas enlatadas. Parecia que o besouro ria junto com o cidadão.
No outro dia, ao tempo que o cidadão cortava a grama do jardim de sua casa, Bizarro cuidava, do seu jeito, dos canteiros e dos outros insetos. Na hora do almoço assaram carne na churrasqueira nos fundos da casa e beberam mais cerveja. Falavam pouco entre si, mas havia uma estranha comunicação telepática.
No final do dia o quintal estava perfeito. Jogaram um pouco de futebol no gramado cortado. Depois de mais cerveja foram dormir. O monstro dormia na rua, numa tenda improvisada pelos dois. Dentro de casa já havia quebrado muitas peças e louças.
Quando acordou, o cidadão sentiu um cheiro estranho. Sua cama toda molhada. As paredes manchadas, respingadas. Tudo vermelho. O lençol ensopado no chão, em direção à porta. Uma dor lancinante. Olhou para baixo e não viu suas pernas. Apenas dois tocos ensangüentados e ainda sangrando, com os ossos despedaçados e a carne triturada. Só conseguiu gritar desesperadamente.
3 comentários:
Conto envolvendo besouro lembra-me do "Escaravelho de Ouro", que lançou forte o nome de Edgar Allan Poe.
Vale a leitura.
Estranho...será que a fumaça do "fumo" queimado no México chegou aqui??? rsrsrsrs (brincadeira, viu!). Martha
Meu Senhor... quanta criatividade!! Boa!
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