Bacafá

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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Indignai-vos.

Stéphane Hessel é um alemão naturalizado francês de 93 anos. Stéphane participou da resistência francesa contra o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial, juntando-se à França Livre do general De Gaulle, em Londres. E não se esquivou de ir a campo, desembarcando de forma clandestina em 1944, na França. Foi detido pela Gestapo naquele mesmo ano, foi torturado e enviado a um campo de concentração (Buchenwald), de onde fugiu, foi recapturado e preso em outro campo de concentração (Dora), conseguiu escapar novamente, desta vez encontrando tropas aliadas.

Em 1948 estava entre os redatores da “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, um libelo à dignidade, à liberdade e à democracia, adotada pelas Nações Unidas.

Filho de pai judeu, viajou com sua esposa entre 2002 e 2009 para a Faixa de Gaza, e concluiu: “Gaza é uma prisão a céu aberto para 1 milhão e meio de palestinos. (...). Ficamos impressionados com a forma engenhosa de afrontarem todas as penúrias que lhes são impostas”.

E Hessel escreveu ano passado “Indignai-vos” (Editora LeYa, 2011), que li neste último sábado. Um breve manifesto impossível de parar antes do fim. Nessa obra esse homem com tantas belas e sofridas experiências nos diz que devemos ‘es-perar’ em vez de ‘ex-asperar’ (exasperar). Mas esperar no sentido de ter esperança; não esperar sentado, mas esperar fazendo alguma coisa com esperança de mudar.

Hessel ensina que todos devemos ter nossos motivos de indignação, ainda que o mundo de 70 anos atrás seja diferente do mundo de hoje. Nas suas palavras: “Eu desejo a todos, a cada um de vocês, que tenham seu motivo de indignação. Isto é precioso. Quando alguma coisa nos indigna, como fiquei indignado com o nazismo, nos transformamos em militantes; fortes e engajados, nos unimos à corrente da história, e a grande corrente da história prossegue graças a cada um de nós. Essa corrente vai em direção de mais justiça, de mais liberdade, mas não da liberdade descontrolada da raposa no galinheiro. Esses direitos, cujo programa a ‘Declaração Universal’ redigiu um 1948, são universais. Se você encontrar alguém que não é beneficiado por eles, compadeça-se, ajude-o a conquistá-los.”

Que lição podemos tirar dessas palavras? Muitas, talvez. E possivelmente a mais importante é que não devemos nos acomodar, deixar as coisas erradas acontecerem e não fazermos nada.

Indignemo-nos com o poder judiciário lento. Indignemo-nos com uma prefeita que coloca seus parentes dentro do paço municipal às custas do dinheiro dos contribuintes. Indignemo-nos com os vereadores que muito falam e não exercem verdadeiramente seu papel. Indignemo-nos com os deputados que não se manifestam para resolver os problemas da educação. Indignemo-nos com o governador que não dá a devida atenção à segurança pública e ao problema social das drogas. Indignemo-nos com os senadores que assinam o que não lêem. Indignemo-nos com os funcionários públicos fantasmas. Indignemo-nos com os vizinhos e amigos que acham bonito fazer coisas erradas.

O diplomata nos deixa claro aquilo que já sabemos: “O interesse geral deve sobrepujar o particular, a justa divisão das riquezas criadas pelo mundo do trabalho deve primar sobre o poder do dinheiro”.

Afinal, “Sartre nos ensinou a dizer a nós mesmos: ‘Vocês são responsáveis enquanto indivíduos’. Era uma mensagem libertária.”

2 comentários:

Tiago M. Franco disse...

É mais fácil falar do que passar à pratica. Hessel é um duplo exemplo, pois além de este manifesto ser muito bem elaborado, enquanto jovem sempre esteve presente na defesa dos interesses das pessoas. A Europa caminha para o seu desmantelamento, parece que políticos com o perfil de Hessel estão afastados das grandes decisões europeias.

jean mafra em minúsculas disse...

caraca, raphael, adorei.

vou tentar comprar o livro ontem.

e, no fim das contas, somos nós, que nos indignamos, que fazemos o mundo caminhar para a frente.

abraço fraterno.