Pela primeira vez o Contos de quinta publicará o texto de um leitor. Na realidade de uma leitora que mandou o conto sob um pseudônimo: Lua Negra. Repito que qualquer interessado em participar poderá entrar em contato que será um prazer publicar.
Strip-pôquer.
Tudo começou quando li um conto... num blog por aí. Não lembro muito bem porque, mas a certa altura o conto trazia a palavra “strip-pôquer”. Fiquei interessada. Não. Acho que não há problemas em admitir que a excitação era o real sentimento. Ótimo, eu estava precisando sentir alguma coisa que me surpreendesse, algo que mexesse comigo de uma forma intensa, quente. Entretanto, eu tinha um problema. Não sabia jogar pôquer.
Pensando sobre isso, pesquisei na internet sobre as regras (obviamente sem admitir que minha ânsia não era pelo pôquer, e sim pelo strip). Achei complicado. Pra quê tanta complicação se no final das contas o único objetivo é tirar a roupa? Claro, o problema é que eu nasci mulher, e, portanto, um ser incompreensível, incapaz de admitir seus instintos e vontades simplesmente, sem justificativas.
Bom, mas eu tinha uma justificativa, afinal. Precisava aprender a jogar pôquer. Falei com um amigo. Ele ficou empolgado (mais do que devia, considerando que não coloquei a palavra “strip”, antes da palavra pôquer). Fingi que não senti a alteração no seu tom de voz, assim como tentei não imaginar por onde andava sua imaginação nesse momento. Seria possível que nenhum homem pudesse ser meu amigo, simplesmente, sem intenções ocultas?
Ignorei o fato de conhecer sua real intenção, e marcamos nossa primeira aula. Foi legal, apesar de complexo. Como as pessoas podiam se divertir tanto jogando isso? Não sei. E também não quero saber, considerando que na verdade eu adoraria perder uma partida depois da outra, pra que o strip fosse perfeito. Aliás, esse pensamento deu origem a uma pergunta interna... com quanta roupa eu deveria ir, no fim das contas? Se fossem muitas roupas, eu teria que perder muito antes de mostrar a lingerie, linda, rendada e preta que eu já havia comprado (pode me chamar de ansiosa, eu não ligo).
Perdão pela distração. Vamos voltar ao que interessa. Fui embora depois da primeira aula um pouco surpresa, já que meu amigo não demonstrou nenhuma má intenção. Será que eu estava decepcionada? Não... impossível. Na verdade não era impossível, porque de repente me senti ansiosa pela segunda aula, e por esse motivo lhe telefonei ainda do carro, a caminho de casa. Ele pareceu gostar disso, e eu não me incomodei em tentar disfarçar que também gostei. Era quinta feira e, para não demonstrar minha ansiedade, marquei para sábado.
Sábado acordei animada, ansiosa. Passei o dia sem comer, pois não queria aumentar nem um único centímetro de minhas medidas, afinal - recordei, um pouco constrangida - a lingerie era mínima. Me arrependi de já ter comprado. Agora ia essa mesmo.
Eu ainda não admitia que queria jogar strip-pôquer com meu amigo, mas apenas por precaução passei o dia todo cuidando de mim. Ainda precavida, coloquei a lingerie. Nessa hora voltou a dúvida: muita roupa ou pouca roupa? Acabei optando por uma meia 7/8, na altura das coxas, a renda combinando com a lingerie. Joguei um sobretudo por cima, e mais nada.
Saí meia hora mais cedo do que o necessário, com medo de que pudesse perder a coragem. O que ele pensaria de mim? Valia a pena perder um amigo por uma fantasia sexual? Não! Fantasia sexual?!!? Derrotada, admiti para mim mesma pelo retrovisor que, a essa altura, minha tara pelo strip-pôquer já podia ser considerada isso, até porque já incluía beijos, mordidas e sexo sobre a mesa cheia de cartas e fichas. Decidi que sim. Decidi também que não pensaria nas consequências.
Quando cheguei no prédio dele, me perguntei se entrava ou não, considerando que eu estava adiantada. Entrei. Mulheres são ansiosas demais para esperar dentro do carro, ouvindo música e olhando para o vazio, como os homens fazem.
Ele gostou de me ver. Ou seria imaginação? Eu gostei de vê-lo. Caramba, por que eu era tão insegura? Empinei o nariz, mexi no cabelo e cruzei porta adentro, sentando no sofá e olhando, de canto, a mesa arrumada com as fichas e as cartas. Ferrou. Minhas pernas tremeram e senti, envergonhada, que não conseguia mais conter minha excitação, pedindo para começarmos logo e já arrependida de não ter colocado muita roupa, afinal, não queria que ele pensasse que eu era fácil. Tarde demais.
Sentamos à mesa e ele me perguntou se eu lembrava das regras. Eu lembrava, acho. Mas sugeri que jogássemos valendo dessa vez, porque a maneira mais fácil de aprender a fazer alguma coisa, era fazendo. Começamos o jogo, e, como era óbvio, ele ganhou a primeira, e, sinceramente, nem entendi o que significava. Mas fiquei animada pois ele buscou a segunda garrafa de espumante... (não queria admitir, mas a primeira tomei praticamente sozinha)
Ele abriu a segunda garrafa e encheu as taças... iniciamos a segunda partida, mas mais rimos e bebemos do que jogamos. Fui buscar a terceira garrafa, confesso que para me certificar de quantas garrafas havia, o que me empolgou, porque ainda tinha quatro! Havia três possíveis motivos para isso, pensei: 1. Ele imaginou que a noite seria boa; 2. Ele imaginou que eu era tímida e precisava beber para me soltar ou... 3. Ele estava mais habituado do que eu pensara a trazer mulheres para um strip-pôquer bem animado, e já estava abastecido. Resolvi não pensar mais nisso. Eu não voltaria atrás agora, independente do que acontecesse.
Voltei para a mesa com a terceira garrafa, mas não sentei na cadeira, como ele esperava. Sentei na mesa, na frente dele, abri as pernas. Depois cruzei. Abri os botões do sobretudo, um a um. Ele apenas olhava. Senti um súbito pânico ao imaginar que pudesse ter confundido tudo e apenas imaginado que ele também me desejava. Estaquei no último botão... vi um lapso de dúvida em seus olhos e então uma decisão. Levantou, me deitou na mesa, desabotoou o último botão. Interpretei o sorriso torto como um sinal de que gostou do que viu. Ele riu mais, beijou meu umbigo, brincou com o piercing e passou o dedo por minha tatuagem... me arrepiei.
Queria agir também, puxá-lo, abraçá-lo. Mas não consegui. Estava bom demais para que eu ousasse me mexer. Fiquei paralisada, apenas sentindo... fechei os olhos e descobri que sentir sua boca em meu corpo e tentar adivinhar para onde ela estava indo era melhor do que olhar por onde ela ia.
Quando não aguentei mais, fiz o que esperei toda a noite pra fazer. Tirei de uma vez o casaco, os sapatos, o prendedor do cabelo. E dominei a situação. A única luz que havia era a da cozinha, que eu havia deixado acesa quando fui buscar a última garrafa, o que era bom e ruim ao mesmo tempo, pois eu queria ver suas expressões e reações, mas não seria capaz de olhar nos olhos dele, diretamente.
Foi bom. Ok, admito. Foi melhor do eu esperava. Nunca me imaginei fazendo aquelas coisas com ele. Não jogamos mais pôquer aquela noite, mas ele me fez vestir e tirar a roupa para ele mais três vezes. Rimos, bebemos as outras garrafas de espumante e por fim dormimos. Exaustos. Acordei pela manhã, minha cabeça rodando, meus pensamentos confusos. Me descobri no tapete da sala, junto com algumas cartas e fichas que caíram da mesa durante a loucura toda. Lembrei. Senti vergonha. E agora, como seria? Decidi que o melhor era sair dali o mais depressa possível e resolver isso comigo mesma. Levantei, e na pressa de sair dali não encontrei nada, nem calcinha, nem sutiã, nem meias. Apenas saí, totalmente nua, a não ser pelos sapatos, pelo sobretudo e pelas lembranças.
5 comentários:
Até que ficou legal, Rapha!! Me senti dentro do conto... porque será? kkk
=D Amei da vontade de experimentar, sentair a sensação ^^
rsss
Adorei, divertido, como a Lua Negra falo "Me senti dentro do conto".
Jeniffer
Adorei, divertido, como a Lua Negra falo "Me senti dentro do conto".
Jeniffer
Texto sensacional! Parabéns!
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