Bacafá

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sexta-feira, 8 de julho de 2011

Zona azul, preguiça e Dante.

Segundo a Igreja Católica existem sete pecados capitais, criados para, conforme o ponto de vista, proteger ou controlar seus seguidores. Falo, aqui, dos pecados capitais “tradicionais” (luxúria, gula, avareza, ira, soberba, vaidade e preguiça) e não dos pecados capitais “modernos” (experimentos “moralmente dúbios” com células-tronco, uso de drogas, poluição do meio ambiente, agravamento da injustiça social, riqueza excessiva, geração de pobreza e violações bioéticas). Na realidade, hoje quero me referir especificamente ao pecado da preguiça.

Ah!, quem nunca sentiu preguiça em algum momento da vida? Pecado capital!! Lembrando deste tema tive que recorrer ao bom e velho Dante Alighieri e sua Divina Comédia, obra mais conhecida do autor. Neste clássico ele trata do Inferno, do Purgatório e do Céu. O Inferno é dividido em círculos, nove exatamente. E, de acordo com seus pecados ou outra característica qualquer (como, por exemplo, não ser batizado) as almas eram divididas para sofrer nestes círculos. O Inferno, segundo Dante, é uma montanha apontada para o centro da Terra. De outro viés, o Purgatório é uma montanha apontada para cima (ou seja, há esperança) dividida também em círculos sobrepostos, no Antepurgatório e no Purgatório propriamente dito. No quarto círculo estão as almas dos preguiçosos purificando-se. Fica, o Purgatório, por óbvio, entre o Inferno e o Céu (ou Paraíso).

Entre os iracundos e os avaros, os preguiçosos expiavam seus pecados caminhando sempre com urgência, sem poder perder tempo indolentemente como faziam quando vivos.

E por que me lembrei dos pecados capitais, da preguiça e de Dante com sua Divina Comédia? Porque, ao chegar ao trabalho cedo nesta segunda-feira gelada, deparei-me com vagas e vagas de estacionamento vazias ao longo da Reinoldo Rau e suas transversais. Ainda pensei “talvez tenha sido o frio que tenha feito o pessoal chegar um pouco mais tarde que o normal”. Ledo engano. As horas passaram e eu lá de cima, da minha sala, continuava a ver as vagas sobrando.

Causa? Sim, o início de vigência do sistema rotativo de estacionamento, a famigerada e popularmente chamada Zona Azul.

Se vai ser bom para o comércio ou para os cidadãos só tempo dirá. Se as pessoas que se sentirem lesadas por danos, furtos e roubos nessas áreas onde pagam para estacionar terão direito a ser ressarcidas só os tribunais dirão. São algumas incógnitas do sistema por ora.

Entretanto, não foi isso que me ocupou a mente naquela manhã fria. Fiquei pensando como as pessoas vieram para seus trabalhos e compromissos. Ora, se antes quase nunca havia vagas para estacionar em determinados horários, como podem agora tantas sobrar?

Muitas explicações podem ser apresentadas: as pessoas vieram de ônibus, de taxi, a pé, de bicicleta, de carona ou começaram a revezar com seus colegas e vizinhos quem virá de carro.

Todas soluções que poderiam já estar sendo utilizadas há muito tempo. Precisou doer no bolso para os cidadãos buscarem alternativas nem tão criativas assim. Nada inovadoras, mas que, sem dúvida, farão bem não só para o bolso. Farão bem também para o meio ambiente, para o corpo, para a socialização e para a mente.

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