Bacafá

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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Mataram o cara errado.

Com o título acima, recebi um email enaltecendo um policial à paisana que, após ser assaltado, por trás matou dois dos três bandidos e deixou o terceiro com os braços literalmente estourados. Como uma ode à violência ou uma valorização ao policial que reagiu em pleno dia no meio da rua, o email veio com diversas fotos, fortes, onde apareciam os assaltantes estirados no chão (como dito, dois mortos e um, ainda vivo, em estado deplorável) em literais poças de sangue. Não fui o único a receber esse email, e um dos outros destinatários, o advogado Julio Max Manske, aqui de Jaraguá do Sul, não silenciou quanto a essa inversão de valores. A seguir, com sua autorização, a lúcida e coerente resposta dada. Por respeito, eliminei o nome da pessoa que remeteu o email.

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Lamentável Sr. xxxxxxxx. Não sei como estou em sua lista, não sei qual o seu conhecimento sobre a vida, mas um pouco de reflexão social seria prudente antes de repassar o email abaixo. Incrível como o mesmo cidadão que hoje manda os direitos humanos à merda, vai ser o mesmo que baterá as suas portas no momento que precisar.

Nem de longe concordo com a criminalidade e seu avanço crescente, da mesma forma, sou desfavorável a política da não reação (sendo favorável, portanto, a políticas que ensinem a sociedade a defenderem-se destas situações, mesmo que fisicamente), agora idolatrar esta situação, é desmerecer todo o avanço social havido nos últimos séculos.

Existem leis que regulam nossa vida em sociedade e penas para as condutas criminosas. Não temos pena de morte e nem a teremos mais. Incitar a prática do homicídio, ainda que de meliantes, também é crime. Logo, crime por crime, quem formulou o texto abaixo, também é criminoso. Se não está bom da forma como vivemos, leia um pouco da história da civilização para aprender que já foi muito pior e que o estabelecimento de regras (leis) importa em uma evolução e conquista de uma sociedade livre e democrática.

Havendo leis e sendo essas necessárias, devem ser cumpridas. Aos seus infratores, devem ser aplicadas as penalidades previstas nas mesmas regras e não aquelas que entendemos que devem ser aplicadas. As leis realmente são feitas para proteger a sociedade e, muitas vezes, proteger a sociedade dela mesma.

Tenho todo respeito aos policiais e sinto-me frustrado pelo meu filho não ter o mesmo orgulho que eu tinha da polícia com sua idade. O meu filho tem medo, não tem respeito. A polícia deve ser respeitada e não temida. Mas isso depende dos próprios policiais, depende da sua educação no dia a dia, no seu trato com os cidadãos, com um sorriso ao cumprimentar as pessoas ao encontrá-las. Ainda hoje ouvi um policial fardado comentado com outro seu colega, também fardado em um café, que é revolucionário e que concorda com o “quebra pau dos professores” ocorrido ontem na Assembléia Legislativa e que se isso acontecesse na polícia faria o mesmo. Posição alarmante e preocupante para quem “prometeu” e assumiu o compromisso constitucional de assegurar a ORDEM E A SEGURANÇA PÚBLICA. Falta, nestes caso, respeito a farda e o que ela representa. Policial não é segurança de boate e muito menos justiceiro, policial é muito mais do que isso. Não basta querer ser policial, tem que ter vocação para essa árdua missão.

Espero não perder o orgulho que tenho da polícia, assim como espero que meu filho também o tenha.

Emails como o que repassasse, não engrandecem a atividade policial, mas sim, resgatam o sentimento primata do homem. Faltou acrescentar em seu email (digo seu, porque ao repassar, estás consentindo com seu conteúdo), e isso qualquer policial poderá reforçar, as consequências que este sujeito irá enfrentar, pois agiu incorretamente segundo as normas de segurança que “deve” ter aprendido no seu ofício, quanto ao uso da arma de fogo e em decorrência disso responderá administrativa e criminalmente (nem se cogita aplicar as excludentes de ilicitude neste caso em face da desproporcionalidades dos bens jurídicos). E, por responder a um processo criminal pela prática de um crime, este policial será considerado criminoso (autor de crime é criminoso), o que é sinônimo de bandido. Deve ele também, portanto, ser morto e enterrado em pé para não ocupar espaço??????

Ou será que devemos entender que o policial, por pertencer a uma força tarefa, está acima do bem e do mal??? Que tem o direito de fazer justiça da sua forma e modo??? Talvez tenhas sentindo uma emoção imediata de prazer ao ver os assaltantes mortos, mas se refletires um pouco, verás que não é esse o caminho!! Não sei te dizer qual é e seria muita prepotência de minha parte ter essa resposta, mas não posso calar-me diante dessa manifestação.

Tive a honra de estar por uma semana em curso intensivo com policiais militares e, muitos deles integrantes de força especial, e aprendi muito. Aprendi sobre disciplina, aprendi sobre respeito e, principalmente, aprendi sobre a preservação da vida.

Entretanto, sendo livre a manifestação do pensamento, respeitando a sua posição assim como espero respeite a minha, resta-me apenas te pedir a gentileza de excluir-me de sua listagem.

Julio Max Manske
OAB/SC 13.088

Um comentário:

Nemim disse...

Ideia lucida e educada,
Muito boa a postagem.