Bacafá

Bacafá

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Interessante análise.

Trecho de entrevista do historiador e cientista político Luiz Felipe de Alencastro ao jornal Valor, no Caderno Eu &, do último final de semana.

Valor: A classe média também pode gerar instabilidade, ao sentir que perde privilégios?

Alencastro: Isso já está acontecendo. É o que alimenta a agressividade anti-Lula de certos jornais e revistas, que retratam a perplexidade de uma camada social insegura: os pobres estão satisfeitos e os ricaços também, mas a velha classe média não acha graça nenhuma. Ter domésticas com direitos trabalhistas, pobres e remediados comprando e atrapalhando o trânsito, não ter faculdade pública garantida para os filhos matriculados em escola particular. Tudo isso é resultado da mobilidade social, que provoca incompreensão e ressentimento numa parte da classe média. Daí o furor contra o ProUni, as cotas na universidade, o Bolsa Família. Leio a imprensa brasileira pela internet e às vezes fico pasmo com os comentários dos leitores, a agressividade e o preconceito social explícitos. O discurso de gente como o senador Demóstenes Torres no DEM [contra o sistema de cotas raciais nas universidades públicas] indica uma guinada à direita da direita parecida com a dos republicanos dos Estados Unidos. Lá, esse extremismo empolgou o partido inteiro e pode desestabilizar o país. A falta de perspectiva da oposição cria um vácuo para o radicalismo.

-----------------------
Eu penso que infelizmente esse preconceito social é lugar comum em uma determinada parcela da classe média que se acha superior intelectualmente e detentora de direitos que não poderiam, jamais, em seu ponto de vista, ser divididos com pessoas que venham de estrato inferior. Arrotam seus complexos contra os projetos sociais existentes e contra um presidente que veio da miséria nordestina. Não conseguem admitir a ascensão da camada mais pobre da sociedade, não conseguem admitir que tem mais gente saindo da linha da indigência. Sentem-se afetados de alguma forma.

Que fique claro que não estou, aqui, discutindo política partidária ou corrupção e nem, tampouco, generalizando o pensamento da classe média. Apenas relatando o que concluo depois de ouvir discussões em diversas rodas sobre o sistema social brasileiro.

Um comentário:

Alline disse...

Eu não sou a favor de cotas, sou a favor de educação para todos. Educação desde a pré-escola, e não cota. Que se começasse o trabalho com as crianças desde pequenas. Para os mais velhos que não podem pagar, cursinho de graça.

Não penso que cota seja a solução dos problemas. E se ameniza, é muito pouco.