Bacafá

Bacafá

sábado, 17 de janeiro de 2009

Ana Cristina César

Um Beijo

que tivesse um blue.
Isto é
imitasse feliz a delicadeza, a sua,
assim como um tropeço
que mergulha surdamente
no reino expresso
do prazer.
Espio sem um ai
as evoluções do teu confronto
à minha sombra
desde a escolha
debruçada no menu;
um peixe grelhado
um namorado
uma água
sem gás
de decolagem:
leitor embevecido
talvez ensurdecido
"ao sucesso"
diria meu censor
"à escuta"
diria meu amor


Ana Cristina César, ou simplesmente Ana C. ou Ana Cristina C., nasceu no Rio de Janeiro em 1952, e suicidou-se em 1983. Dona de características muito próprias, fui a ela apresentado pela biblioteca da UFSC, no início da década de 90. Provavelmente devo ter lido alguma coisa em algum jornal ou ensaio da época, a ponto de procurá-la entre os livros de poesia da BU.

O fato é que simplesmente gostei; descobri uma escritora marginal e visceral. Forte como sua história. Efêmera e perene. Ano passado fez 25 anos de sua morte e praticamente nada dela se falou fora do círculo literário. Aí em cima, um texto dela. Aqui embaixo, um texto de Carlos Drummond de Andrade para ela:

Ausência

Por muito tempo achei que ausência é falta
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
Ausência é um estar em mim.
E sinto-a tão pegada, aconchegada nos meus braços
Que rio e danço e invento exclamações alegres.
Porque a ausência, esta ausência assimilada,
Ninguém a rouba mais de mim.
(Carlos Drummond de Andrade – Com o pensamento em Ana Cristina)


Eu mesmo me arrisquei por estas searas. Claro que não com o mesmo traço refinado de Carlos Drummond de Andrade. Mas vá lá. Essa é de junho de 1992:

Mudo convite a Ana Cristina C.

Passos descompassados
Avisos desavisados
Horas atrasadas

Perdida em confusas frases
Semanas melancólicas
Deixei de entender muita coisa
Deixei me entender você
Prender-me as suas dúvidas
Suas certezas quase puras
Noites breves
Experiências coloridas de uma vida em preto e branco
Ou vice-versa

Nenhum comentário: