Bacafá

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sábado, 5 de setembro de 2009

Não são só os políticos que nos envergonham.

Pai é preso por beijar filha na boca. Mas bater pode...

Li no Balaio do Kotscho:

"O que me chamou a atenção desta vez foi o inacreditável episódio registrado em Fortaleza, na quinta-feira, quando um turista italiano, de 40 anos, casado com uma brasileira, foi preso por beijar na boca a própria filha de oito anos num local público.

Este caso resume tudo o que nós temos de pior: falta de cultura, hipocrisia, autoritarismo, delações levianas, mania de se meter na vida dos outros sem ser chamado.

Num país que é tristemente conhecido como um dos campeões mundiais de violência infantil, o italiano foi denunciado à polícia por um casal de Brasília, certamente habituado a só ver cenas bonitas e edificantes, porque não gostaram de ver os carinhos que ele fazia na filha na piscina de um bar na praia.

Se, ao contrário, ele estivesse batendo na menina, certamente ninguém repararia nem se pensaria em chamar a polícia.

Seria visto como coisa normal: a cada dia, são registrados 92 casos no Brasil de violência infantil, segundo a Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente do governo federal. No ano passado, foram 32.588 casos.

Ao contrário do que costuma acontecer, desta vez a polícia foi rápida e eficiente. Agentes do 2º Distrito Policial de Fortaleza atenderam prontamente ao chamado do casal de Brasília e foram até a praia do Futuro para prender em flagrante o indigitado italiano, perigoso meliante que até o final do dia permanecia preso numa cela isolada.

Indiciado por “estupro de vulnerável”, pode pegar até 15 anos de cadeia, segundo as leis brasileiras. Por ter beijado a filha na boca!

O casal de Brasília e os policiais de Fortaleza não tinham obrigação de saber que os italianos têm essa mania de beijar todo mundo, parentes e amigos, sem se importar se é ou não do mesmo sexo, tanto faz para eles.

Mas poderiam, antes de denunciar e prender o pai da menina, conversar com a mãe dela, uma brasileira. Para a mãe, segundo o noticiário da “Folha”, o “selinho” foi apenas uma demonstração de carinho, algo comum na sua família, que mora na Itália e planejava passar duas semanas no Brasil.

Não, definitivamente não são apenas os políticos brasileiros e suas lambanças que nos fazem passar vergonha lá fora.

Cada leitor do Balaio certamente terá outras histórias para contar de fatos que nos envergonham, praticados por cidadãos comuns que passam o tempo todo xingando os políticos.

Outro dia, quando eu estava atravessando a rua com a família toda, incluindo a sogra e um carrinho de bebê, um motorista invadiu a faixa de pedestres e, quando gritei com ele, parou o carro para me desafiar:

“Está pensando o que, imbecil? Pensa que está em Londres?”."


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Quem nunca passou por idiotas deste naipe? Ou situações constrangendoras imbecis facilmente evitáveis?

Lembro de dois episódios.

O primeiro. Na fila de um show da Sandy e Junior (ou dos Sandy e Junior ou da Sandy e do Junior??), numa tarde de domingo, e um número gigantesco de fãs, estava minha filha ansiosa no alto de seus, talvez, 4 ou 5 anos, conformadamente aguardando, apesar do enorme atraso. Quando a fila andou, um acéfalo simplesmente subiu as escadas (a fila estava uma enorme minhoca e para quem conhece o Centreventos Cau Hansen de Joinville sabe que há algumas escadas pelas entradas) postando-se, na maior cara de pau, a nossa frente. Ele talvez estivesse umas duzentas pessoas atrás da gente. Talvez mais. E trouxe seus dois filhos pequenos. Bati no ombro do Sr. Sem-educação e perguntei o que ele estava fazendo. Ele respondeu que a senhora que estava na nossa frente, também com seus filhos, estava guardando lugar pra ele (deu para ler nos lábios dela "não me mete em confusão" falando baixinho para ele). Poucas vezes fiquei nervoso na vida. Uma delas foi essa. Comecei a bater boca com o cidadão, perguntando, em alto tom, se essa era a educação que ele dava aos seus filhos, se esse é o exemplo que eles gostaria que seus filhos seguissem, de se corromper e desrespeitar os outros. Por sorte ficamos só na discussão porque o cara era bem maior que eu. Quando chegamos propriamente na entrada, eu chamei o policial e expliquei a situação, e falei: "Pode perguntar pro pessoal aí de trás". E olhamos para as pessoas que estavam atrás de nós na fila. Impressionantemente todos olharam pra cima, pra baixo, para os lados, assobiaram, chuparam cana, mas ninguém, ninguém se manifestou. O guarda, talvez por pena de mim, nervoso e sem ninguém que honrasse as calças para confirmar o que disse (até porque instantes antes, durante a discussão, estavam me apoiando), tirou o cidadão e seus filhos da fila (segurou-os por algum tempo, e depois os liberou). Minha filha entrou (eu não fui ao show, fui tremendo pra casa). Quando fui buscá-la vi a grande besteira que poderia ter feito. Minha filha estava rouca e vermelha de tanto cantar e pular. E eu poderia simplesmente ter estragado tudo me metendo numa briga. Não seria mais simples, da minha parte, simplesmente passar, silenciosamente, na frente do mal-educado?

O segundo: não foi grave, mas demonstra o quanto exemplos e educação são importantes. Com minha filha, também por volta dos quatro ou cinco anos, aguardava o sinal para pedestres abrir. Na rua não vinha carro. Se não me engano era um sábado ou domingo à tarde e estávamos indo para o parquinho da praça. Um pouco a nossa frente, um policial fardado. Ele deu o primeiro passo para atravessar a rua (com o sinal ainda vermelho para pedestres) quando minha filha indagou: "Pai, o policial não viu o sinal?" O policial parou em câmera lenta, voltou, também em câmera lenta, e ficou na calçada esperando o sinal abrir. Silencioso, mas, a partir daquele, tenho certeza, ainda mais consciente de sua responsabilidade.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pois é, caro Raphael. Tudo passa por essa palavra tão falada ou muito pouco respeitada: educação!

Também tive vergonha de ser brasileiro, ao ver a notícia sobre o italiano. Revela, acima de tudo, a hipocresia que nos assombra a cada momento.

Parabéns por ser um pai exemplar. Os filhos dos filhos de sua filha ainda usufruirão dessa herança.