Bacafá

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domingo, 3 de abril de 2011

Religião na escola.

Texto de Hélio Schwartsman, publicado no Folha.com.

"O que são as histórias da Bíblia? Fábulas, contos de fadas?", pergunta a professora do 3º ano do ensino fundamental. "Não", respondem os alunos. "São reais!"

A cena, que teve lugar numa escola pública de Samambaia, cidade-satélite de Brasília, abre a reportagem de Angela Pinho sobre o ensino religioso no Brasil, publicada no último domingo na Folha. É um retrato perfeito da encrenca em que essa disciplina, que vem crescendo e hoje abarca mais ou menos a metade das escolas do país, nos lança.

Se as historietas bíblicas são reais, como quer a professora, então nós temos vários problemas. Procedamos por ramos do saber, a começar da física. De acordo, com Josué 10:12, Deus parou o Sol para que os israelitas pudessem massacrar os amorreus. Mesmo que eu não duvidasse da onipotência do Senhor, pelo que sabemos hoje de mecânica, nada na Terra sobreviveria a uma súbita interrupção de seu movimento de rotação. Em quem o aluno deve acreditar, no professor de religião ou no de ciência?

A física não o comoveu? Que tal a geologia? Pela Bíblia, a Terra tem cerca de 6.000 anos --5.771, a confiar nas contas dos rabinos. Pela geologia, são 4,5 bilhões. É difícil, para não dizer impossível, conciliar a literalidade das Escrituras com a existência de fósseis com idades substancialmente maiores que os seis milênios. Do lado de qual professor o aluno deve perfilar-se?

Talvez o problema esteja nas ciências "duras". Passemos às humanidades. A Bíblia, como todo mundo sabe ou deveria saber, é a fonte da moral, e os ensinamentos que ela traz nessa área são incontestáveis. Será? Em várias passagens, o "bom livro" autoriza ou mesmo manda fazer coisas que hoje consideraríamos horríveis, como vender nossas filhas como escravas (Êxodo 21:7) e assassinar parentes que abracem outras religiões (Deuteronômio 13:7). Se julgamos que a ética se aprende através de exemplos livrescos, sugiro trocar as Escrituras pelo mais benigno Marquês de Sade."

Continue lendo no Folha.com, clicando aqui.

2 comentários:

Jaque disse...

Sou contra o "ensino religioso" nas escolas. Penso naqueles que não são cristãos ou mesmo aqueles que não creem... Como ficam? Fui batizada na igreja católica, mas não acredito em tudo o que dizem e muito menos concordo com o que pregam-fazem. Em vez que ficarem fazendo campanhas, que deixem de viver na luxuria que é o Vaticano e que andem em carros populares, por exemplo. E que isso seja interpretado a todas as religiões, não apenas a católica. Tirar da boca do filho pra dar a igreja, que "irmão" é esse que aceita????

Guido Bretzke disse...

Interessante como os Teólogos e Cientistas insistem em excluirem-se mutuamente. A Religião e a Ciência não são excludentes, são parte de um todo e se ao invés da crítica houvesse um interesse real em compreender os fatos um do outro não ficariam dúvidas. Só um exemplo. Em Gênesis a narrativa bíblica diz que Deus ordenou; "haja luz" e porque isto não pode ser o big bang?