As empresas dos Estados Unidos, como as de outras partes do mundo, gostam muito de slogans como “servindo a comunidade desde 1992”. Em seus anúncios nas páginas amarelas e em seu website,
o advogado Brent Welke deu uma nova dimensão a esse recurso
publicitário, para mostrar que faz o que devedores irados supostamente
gostariam de fazer contra os bancos, com o slogan: “Screwing banks since 1992” (que pode ser traduzido como "fodendo bancos desde 1992").
Além
da linguagem tecnicamente inapropriada, os tais anúncios do advogado
especializado em falência prometiam coisas que ele não poderia cumprir,
pelo menos inteiramente, tais como: “Mantenha sua propriedade”; “Impeça
penhoras de salários”; “Impeça execução de hipoteca”; e “Impeça
reintegração de posso de veículos”.
Pelo menos isso foi o que
entendeu o tribunal superior de Indiana, onde o advogado atua. Para os
ministros da corte, tais promessas equivaliam a algo como propaganda
enganosa. Em decisão unânime,
eles explicaram que anúncios omitiram o fato de que tais promessas a
devedores em processo de falência representam apenas uma possibilidade,
não uma garantia.
Agora, mais "comedido", esse advogado colocou um buldogue no seu site, e uma expressão não muito, digamos, técnica, para atrair seus clientes. Veja clicando aqui.
No Brasil as regras são rígidas para publicidade. Cães, por exemplo, não são permitidos...
Decisão de um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve
decisões de outras instâncias
judiciais que garantiram a devolução ao
comprador de 90% do valor pago por um apartamento em razão da rescisão
do contrato de compra com a construtora (distrato).
A ação envolve a compra na planta de um apartamento em Águas Claras,
cidade satélite de Brasília, em março de 2011. O valor do imóvel foi de
R$ 212 mil, com o pagamento de um sinal, comissão de corretagem e
prestação mensal de R$ 357, corrigida mensalmente pelo INCC.
Em abril de 2014, quatro meses após a data prometida para entrega do
imóvel e sem qualquer previsão para o término da obra, o comprador
decidiu rescindir o contrato. O total pago então somava R$ 64.196,99. De
acordo com o contrato, a rescisão por desistência do comprador
representaria a perda de 40% do total pago.
Inconformado, o comprador entrou na Justiça alegando a abusividade
desse percentual e requerendo uma retenção de no máximo 10% do valor
pago.
Na sentença, o juiz de primeira instância concordou com os argumentos
apresentados ao salientar que a retenção de 10% “é suficiente para
cobrir eventuais prejuízos advindos do desfazimento do negócio”,
condenando a construtora a devolver 90% do valor pago, em parcela única.
Ou, nesse caso, muito.
Ainda me impressiono com a criatividade do ser humano. Alguns parvos até escreveram umas sandices, mesmo. Mas outros, acredito, inventaram deliberadamente algumas respostas que servem, indiscutivelmente, para desopilar o fígado.
São comentários sobre a descoberta de água em Marte, trazidos do G1.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem entendimento de que a relação entre o profissional médico e seus clientes gera um contrato de “obrigação de resultado”. Conforme decisões do tribunal, o cirurgião plástico, ao oferecer seus serviços, compromete-se a alcançar o resultado estético pretendido. Caso ocorram falhas nos procedimentos ou os resultados não sejam obtidos, o cliente pode acionar a Justiça para reparar eventuais danos morais e materiais. “De acordo com vasta jurisprudência, a cirurgia plástica estética é obrigação de resultado, uma vez que o objetivo do paciente é justamente melhorar sua aparência, comprometendo-se o cirurgião a proporcionar-lhe o resultado pretendido”, decidiu o tribunal ao analisar o AREsp 328110. “O que importa considerar é que o profissional na área de cirurgia plástica, nos dias atuais, promete um determinado resultado (aliás, essa é a sua atividade-fim), prevendo, inclusive, com detalhes, esse novo resultado estético procurado. Alguns se utilizam mesmo de programas de computador que projetam a simulação da nova imagem (nariz, boca, olhos, seios, nádegas etc.), através de montagem, escolhida na tela do computador ou na impressora, para que o cliente decida. Estabelece-se, sem dúvida, entre médico e paciente relação contratual de resultado que deve ser honrada”, define a doutrina. O Brasil apresenta, ao lado dos EUA, o maior número de procedimentos desse tipo: a cada ano são realizadas no país mais de um milhão de procedimentos estéticos, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Entre as mais comuns estão a cirurgia para remoção de gordura localizada (lipoaspiração), o implante de silicone para aumento dos seios (mamoplastia) e a cirurgia para levantar o nariz (rinoplastia). As decisões da corte sobre esse assunto estão disponibilizadas pela Pesquisa Pronta, na página eletrônica do STJ, sob o tema Responsabilidade Civil do profissional por erro médico. A ferramenta oferece consultas prontamente disponíveis a temas jurídicos relevantes, bem como a acórdãos de julgamento de casos notórios.
Não obstante a responsabilidade objetiva pacificada pelos tribunais nessas situações, um ponto a ser avaliado é o que o cliente/paciente esperava, ou seja, na sua opinião, ou seja, uma sensação subjetiva, o resultado pode não ser exatamente o que ele sonhava, em especial nas cirurgias faciais. Quando ocorrem lesões a questão é bem mais tranquila. Contudo, nas outras possibilidades, a controvérsia pode se instalar...
Para os médicos, um dos fatores preponderantes para evitar desconfortos posteriores é esclarecer o cliente/paciente de todos os riscos inerentes ao procedimento.
Carlos Henrique Schroeder sempre impressiona. E me impressiona porque inova, porque, de alguma maneira, se reinventa como escritor. É a sensação que tenho, na qualidade de não-especialista ou não-crítico de literatura. As fantasias eletivas trazem esse ar de inovação nessa história de vai e vem entre o porteiro de hotel Renê e o travesti Copi, uma relação improvável, com um quê de drama.
Vencedor de vários prêmios, agitador cultural no bom sentido, criador de vários festivais e feiras, escritor inovador, dele o livro que mais gostei foi Ensaio no vazio, um verdadeiro soco no estômago.
De As fantasias... escolhi alguns excertos:
"A vida é uma coleção de derrotas e vitórias emocionais que se empilhavam atrás do ego." "Nos permitimos exibir nossos carros, a porra desses tijolões, os celulares, mas temos vergonha de fazer um carinho, dar um beijo prolongado na nossa companhia em plena rua. É o claro isolamento do afeto, do toque, do gesto. É uma espécie de ausência que torna todas as ruas de todas as cidades um pouco fantasmas, já que deixaram de ser o palco das expressões humanas para ser apenas um trajeto." "No fim é só o fim." "Escrever não é divino, é humano, é triste. É uma criança numa piscina de bolinhas: a criança não sabe por que está lá: gosta, fica, brinca, é divertido. (...). Nenhuma criança quer morar numa piscina de bolinhas: é um lugar de felicidade transitória, de alguns momentos iluminados, que depois se tornam sombrios."
Relendo esses trechos, lembrei de uma Ciranda Cultural promovida pela Biblioteca Municipal de Jaraguá do Sul cujo escritor convidado foi o Schroeder. Ali ele contou que o objetivo do escritor é buscar escrever o livro perfeito, e que nunca está completamente satisfeito com o que escreve. E que o próximo terá que ser melhor.
O CONAR abriu processo por conta de três reclamações contra o anúncio publicitário de O Boticário, considerando-o machista. O comercial mostra a história de três casais reais que estão em processo de divórcio, sendo que no dia da assinatura do instrumento as mulheres aparecem maquiadas (e muito autoconfiantes, segundo a ideia do anúncio). O nome da campanha é "Acredite na beleza".
Será que isso é machismo? Veja o anúncio e tire suas conclusões.
Será que estamos caindo na armadilha da chatice do "politicamente correto"? Ou será que estamos sendo tolerantes com situações "engraçadinhas" e não vendo o lado obscuro, nefasto e disfarçado dos preconceitos arraigados em nossas mentes?
A vida é, de fato, uma caixinha de surpresas. Ora nos decepcionando, ora nos alegrando. Ontem foi daqueles dias divertidos de acompanhar o mundo. Não que as guerras tivessem parado por vinte e quatro horas, ou que as pessoas parassem de sonegar tributos, ou que ninguém tenha passado fome ou sede. Ontem foi diferente, de propósito ou não (e quando digo isso, penso em jogada de marketing da FIFA mesmo), porque um brasileiro desconhecido do mundo ganhou o Prêmio Puskas, de gol mais bonito do ano.
Wendell Lira, do até então (na época do gol) pouco falado Goianesia, marcou um golaço no jogo contra o Atlético-GO, e ganhou o prêmio disputado com Florenzi, do Roma, e Messi, do Barcelona. Foi evidente (e natural) sua emoção ao falar quando recebeu o prêmio, sendo tietado por vários ídolos brasileiros do esporte bretão. Foi humilde, também. Uma espécie de Davi contra Golias, segundo ele próprio, na sua manifestação na entrega do troféu.
Embora já tendo sido convocado para as seleções de base, Wendell esteve parte do ano passado desempregado, voltando a jogar futebol em time profissional há pouco tempo.
Valeu, Wendell, por demonstrar que, apesar dessa loucura de mundo que vivemos, onde o dinheiro move tudo, é possível que coisas inesperadas aconteçam!!
O cara com olhos de cores diferentes estourou em 69, morreu aos 69, virou referência e era chamado de Camaleão, dadas suas transformações ao longo dos anos.
Mesmo não sendo um clássico fã, sei da sua importância na música mundial. Afinal, nos últimos quase sessenta anos todo mundo dançou pelo menos uma música dele. Na pior das hipóteses, tamborilou os dedos...
David Bowie agora pode descobrir se há vida em Marte...
Relembrando as gafes de marketing do ano passado, dentre tantas, a que mais me chamou a atenção foi a utilização pelo McDonald's de um funk proibidão para lançamento de três produtos (Cheddar). E ainda com aquelas melodias que grudam, numa mistura de reggaeton com funk carioca...
Veja o anúncio (#NovinhosCheddar):
Mas, porém, contudo, todavia, entretanto... a música é uma versão de um hit dos cariocas MC Romântico e DJ Bambam, "As Novinhas Tão Sensacional". Não se pode deixar de registrar como é bela a gramática funkeira!
Confira As novinhas (se tiver criança por perto ou não quiser ouvir o baixo nível, pule para a letra a seguir):
A grosseria é essa: "Descendo com a xota prendendo no pau/Subindo com a xota prendendo no pau/Rebola com a xota prendendo no pau/Isso aqui tá gostoso, tá sensacional". Na versão do McDonald's a letra é: "Dobro de cheddar pegando geral/É cheddar mais bacon ficou genial/Batata com cheddar não tem nada igual/Derretendo gostoso, fenomenal".
No clipe oficial, que visava lançar as músicas para fora dos bailes funks (televisão, rádio), a letra muda para "Descendo, gostosa, prendendo legal/Subindo, gostosa, prendendo legal/Rebola, gostosa, prendendo legal/Isso aqui tá gostoso, tá sensacional". Eis o vídeo, com umas novinhas sem cara de novinhas (aguente se quiser):
Pelo que andei lendo na época, o McDonald's limitou-se a dizer que foi uma coincidência. Houve, inclusive, outros vídeos publicitários no Youtube com consumidores mandando mensagens de quanto gostaram das novidades, em cima do vídeo original. Os DJs, por sua vez, parece que aumentaram o valor do seu cachê.
Em português algo como Os descrentes ou Os Incrédulos (tradução oficial do filme). Assisti a esse documentário (de 2013) baseado em debates com e conversas entre Richard Dawkins e Lawrence Krauss, que contou, ainda, com a participação especial de Woody Allen, Cameron Diaz, Stephen Hawking, Sarah Silverman, Bill Pullman, Werner Herzog, Bill Maher, Stephen Colbert, Tim Minchin, Eddie Izzard, Ian McEwan, entre outros artistas e cientistas.
Os colóquios tratam sobre a importância da ciência e da razão na consciência das pessoas e do porque discutir ciência em detrimento da religião, Dawkins, biólogo britânico, e Krauss, físico norte-americano, reconhecidos mundialmente em suas áreas, também são considerados dois dos maiores céticos (ou ateus, como queiram) que se dispõe a conversar e tratar do assunto.
Recomendo assistir o documentário, mesmo para quem é crente (no sentido amplo da palavra), eis que traz pontos de vista muito interessantes e, hoje em dia, talvez mais que em outros tempos, a reflexão é necessária. Estamos em época de Estado Islâmico e Boko Haram, entre outros fanáticos fundamentalistas, na mesma linha que a Igreja Católica estava alguns séculos atrás. Tudo isso se justifica?
Alguns dos raciocínios do livro do George Orwell vão ao encontro do que penso sobre política. Essa história de que os políticos ou os partidos querem oxigenação do poder é pura balela. Só o querem quando não estão lá. Querem apenas o poder e quando chegam, querem se perpetuar no topo. Ou alguém pensa diferente? Raciocínio básico; nem precisa de esforço para entender como as coisas funcionam.
A diferença são os meios pelos quais se consegue se manter no poder. Naturalmente um povo
esclarecido e educado tende a querer mudar quando a repetição se torna excessiva, o que leva a outra conclusão óbvia. Alguns se mantêm no poder por meios não tão claros. A questão é diferenciar o joio do trigo ou achar que tudo é farinha do mesmo saco.
"Porque se lazer e segurança fossem desfrutados por todos igualmente, a grande massa de seres humanos que costuma ser embrutecida pela pobreza se alfabetizaria e aprenderia a pensar por si; e depois que isso acontecesse, mais cedo ou mais tarde essa massa se daria conta de que a minoria privilegiada não tinha função nenhuma e acabaria com ela. A longo termo, uma sociedade hierárquica só era possível num mundo de pobreza e ignorância." "Sabemos que ninguém toma o poder com o objetivo de abandoná-lo. Poder não é um meio, mas um fim. Não se estabelece uma ditadura para proteger uma revolução. Faz-se a revolução para instalar a ditadura. O objetivo da perseguição é a perseguição. O objetivo da tortura é a tortura. O objetivo do poder é o poder."
E, falando sobre classes sociais diferentes:
"Os objetivos desses três grupos são inconciliáveis. O objetivo dos Altos é continuar onde estão. O objetivo dos Médios é trocar de lugar com os Altos. O objetivo dos Baixos, isso quando têm um objetivo - pois uma das características marcantes dos Baixos é o fato de estarem tão oprimidos pela trabalheira que só a intervalos mantêm alguma consciência de toda a e qualquer coisa externa a seu cotidiano -, é abolir todas as diferenças e criar uma sociedade na qual todos os homens sejam iguais."
Com trocadilho, hehe. Depois de reler a possivelmente mais importante obra de George Orwell, uma crítica aos sistemas totalitários que se firmavam ou acabavam ao final da década de 40, vê-se que o mundo não mudou muito nestes últimos quase 80 anos. Pelo menos no que se refere à vontade humana de dominação. Ora sob o espectro social, ora sob o religioso. Como diz Lulu Santos, embora em outro contexto, " Ainda leva uma cara/Pra gente poder dar risada/Assim caminha a humanidade/Com passos de formiga/E sem vontade...".
Alguns trechos interessantes do livro que inspirou os holandeses a criarem o reality show Big Brother:
"Enquanto eles não se conscientizarem, não serão rebeldes autênticos e, enquanto não se rebelarem, não têm como se conscientizar."
...
"'Detesto a pureza, odeio a bondade. Não quero virtude em lugar nenhum. Quero que todo mundo seja devasso até os ossos.'
'Bom, então acho que vai gostar de mim, querido. Sou devassa até os ossos.'
'Você gosta de fazer isso? Não me refiro apenas a estar comigo; falo da coisa em si.'
'Adoro.'"
...
"'Os mortos somos nós.
'Ainda não morremos.'
'Fisicamente não. Seis meses, um ano, talvez cinco anos. Tenho medo da morte. Você é jovem; portanto, em princípio, tem mais medo da morte do que eu. É claro que iremos protelá-la o máximo possível. Mas a diferença é muito pequena. Enquanto os seres humanos permanecerem seres humanos, morte e vida serão a mesma coisa.'"
...
"A privacidade era uma coisa muito valiosa. Todo mundo queria ter um lugar em que pudesse estar a sós de vez em quando."
...
"Graças ao fato de não entenderem, conservavam a saúde mental."
...
"O fato de ser uma minoria de um, não significava que você fosse louco. Havia verdade e havia inverdade, e se você se agarrasse à verdade, mesmo que o mundo inteiro o contradissesse, não estaria louco."
Lendo isso, fiquei imaginando se minha associação estaria assim tão fora de contexto. Partilho com meus leitores para que tirem suas próprias conclusões:
"A guerra, como veremos, não apenas efetua a necessária destruição como a efetua de uma forma psicologicamente aceitável. Em princípio, seria muito simples usar a força de trabalho excedente mundial para construir templos e pirâmides, cavar buracos e tornar a enchê-los, ou mesmo para produzir vastas quantidades de mercadorias e depois queimá-las. Só que isso ofereceria apenas a base econômica para a sociedade hierárquica: ficaria faltando a base emocional. O que importa aqui não é a disposição das massas, cuja atitude não tem importância desde que elas se mantenham estáveis, trabalhando, mas a disposição do próprio Partido. Espera-se que o mesmo militante mais humilde mostre-se competente, laborioso e até inteligente dentro de certos limites, porém é necessário também que ele seja um fanático crédulo e ignorante e que nele predominem sentimentos como o medo, o ódio, a adulação e um triunfo orgiástico. Em outras palavras, é necessário que ele tenha mentalidade adequada a um estado de guerra. Não interessa se a guerra está de fato ocorrendo e, visto ser impossível uma vitória decisiva, não importa se a guerra vai bem ou mal. A única coisa necessária é que exista um estado de guerra".
Capítulo III - Guerra é paz
Teoria e prática do coletivismo Oligárquico, de Emannuel Goldstein
Livro base do Socing, entregue a Winston por O'Brien
(1984, George Orwell)
Talvez eu tenha exagerado na comparação, mas, tendo visto dois documentários recentemente sobre o EI, não consegui parar de pensar na forma como ocorre a manipulação sobre os jovens ansiosos por mudanças e cujos conhecimentos são - ou pelo menos me parecem ser - meticulosamente limitados à pseudo-discussões religiosas, cuja interpretação do Corão envereda pelos lados mais obscuros e duvidosos. A guerra é a paz, eis que seria assim que se conseguiria impor a sua religião ao resto do mundo...
Pessoal mais antigo vai lembrar. Em meados dos anos 90 a Grendene veio com uma campanha forte para os chinelos Rider. Utilizava sucessos da música brasileira, com roupagem nova, e muito boa produção. A empresa responsável, se não me engano, era a badalada W/Brasil.
Havia um dos Rider, inclusive, que vinha acompanhando por um CD. Eu comprei o chinelo, que deve
ter ido embora faz muito tempo (alguma coisa parecida com esse da foto aí do lado). Mas o CD continua o mesmo, e o achei neste final de semana. Foi parte da trilha sonora para Florianópolis no sábado.
Assim, torcendo para que o sol reapareça, busquei alguns desses anúncios que mostram que a publicidade pode fugir do trivial e da mesmice, e pode marcar por décadas:
Tirando do baú virtual, um dos Contos de Quinta. Se não o mais, um dos mais surreais ou extraordinários (no sentido de fora do comum mesmo) do repertório. Originalmente foi publicado em duas partes, em duas quintas seguidas. Hoje vai tudo de uma vez só. Ao final, um pouco de música, com Flight of the bumblebee ou, simplesmente, O vôo do besouro, em duas versões. A primeira, de Al Hirt, no filme Kill Bill, e a segunda da London Cello Orchestra.
O estranho caso do besouro gigante.
Certa noite, caminhava o cidadão pelas ruas vazias, escuras e quentes da silenciosa cidade. Prédios margeando seus passos, casas com as luzes acesas algumas, apagadas outras. Nem os cães ladravam. O estranho silêncio acompanhava o andar do cidadão. Apenas o barulho dos seus próprios sapatos, já gastos, embora limpos. O mesmo não se poderia falar das ruas. Aqui e ali as lâmpadas dos postes piscavam. Outras estavam completamente apagadas, provavelmente queimadas. As restantes emitindo uma luz fraca, amarelada. Nestas, muitos insetos fazendo suas danças e seus malabarismos no entorno.
O cidadão apenas andava, sem destino. Pensava na vida. Às vezes conseguia pensar em nada. Limpava a mente. Entretanto, algo chamou sua atenção para a próxima esquina. Caminhou lentamente até lá, dobrou a esquina e ficou olhando. Surpreso. Analisou vagarosamente, detalhadamente, a estranha criatura a sua frente.
Parecia um monstro. Um monstruoso besouro, para ser mais exato. Seis patas enormes e peludas, todo preto, com uns riscos vermelhos. Ficou atônito na frente do inseto. Mudo, quase sem respirar. O besouro, por sua vez, concentrou-se no cidadão. Olhava, também. Praticamente parado, também. Apenas mexendo as antenas. O bicho deu um passo lento. O cidadão recuou. Sem falar nada. Não porque não queria, mas simplesmente porque não conseguia. Teve a intenção de gritar, mas não conseguiu. Fechou os olhos.
Abriu somente quando sentiu um bafo em seu rosto. O besouro estava praticamente enconstado em seu nariz. O cidadão não sabia se se mantinha congelado ou se saía correndo. Por medo ficou parado mesmo. O monstro resolveu cutucar o cidadão. De leve, sem machucar, como se estivesse dando sinais de boas intenções. O cidadão respirava profunda e vagarosamente. As gotas de suor já escorriam por sua testa. Suor frio que igualmente lhe molhavam as costas.
Deu um passo para trás. O inseto se assustou e deu uns dois ou três passos também para trás, levantando-se um pouco, o que o fez parecer ainda mais gigante do que já era. O cidadão fechou os olhos e se franziu, esperando o pior.
Durante alguns segundos nenhum dos dois se mexeu. Enquanto o menor continuava paralisado, o inseto foi se reaproximando. Encostou novamente no cidadão, como se quisesse mostrar alguma coisa. Como se quisesse se comunicar. Foi o empurrando devagar. Saíram do beco onde estavam e foram caminhando. No inicio o cidadão estava andando de costas. Depois andaram lado a lado.
Quando o cidadão se deu conta já estava em frente a sua casa. Teve uma estranha sensação de que se comunicava mentalmente com o bizarro bicho. Abriu o portão rangente e entrou na frente. O inseto passou um pouco pelo espaço aberto, um pouco por cima do pequeno muro de tijolos à vista.
Ao subir os quatro degraus que davam para a varanda de sua casa, o cidadão se virou e ficou olhando o monstro. Voltou os olhos para a porta e novamente para o bicho. Calculou mentalmente o tamanho do inseto e imaginou se passaria pela porta. Entrou em casa, acendeu as luzes e ficou esperando. O besouro gigante foi se aproximando aos poucos, espremeu-se pela porta e entrou, derrubando alguns enfeites que estavam na mesa na parede ao lado da porta.
Depois de olhar para os cacos, o bicho se acomodou em um dos sofás da sala. O maior. O cidadão pegou uma cerveja na cozinha e voltou pra sala, sentando em uma poltrona de frente para o esquisito bicho em sua esquisita posição.
- Precisamos de um nome pra você – falou em voz moderada.
O inseto continuou olhando para o cidadão bebendo cerveja.
- Mas... que nome? Rubro-negro? Gigante? Zé? Não, não... não combinam com você. Você é muito bizarro... É isso, hehe... acho que é isso mesmo. Bizarro. Seu nome, daqui em diante, é Bizarro.
O cidadão pegou uma tigela de plástico, encheu de cerveja e deu para o Bizarro beber, enquanto entornava a sua segunda garrafa. Ligou a televisão e ficaram vendo aquelas séries americanas antigas enlatadas. Parecia que o besouro ria junto com o cidadão.
No outro dia, ao tempo que o cidadão cortava a grama do jardim de sua casa, Bizarro cuidava, do seu jeito, dos canteiros e dos outros insetos. Na hora do almoço assaram carne na churrasqueira nos fundos da casa e beberam mais cerveja. Falavam pouco entre si, mas havia uma estranha comunicação telepática.
No final do dia o quintal estava perfeito. Jogaram um pouco de futebol no gramado cortado. Depois de mais cerveja foram dormir. O monstro dormia na rua, numa tenda improvisada pelos dois. Dentro de casa já havia quebrado muitas peças e louças.
Quando acordou, o cidadão sentiu um cheiro estranho. Sua cama toda molhada. As paredes manchadas, respingadas. Tudo vermelho. O lençol ensopado no chão, em direção à porta. Uma dor lancinante. Olhou para baixo e não viu suas pernas. Apenas dois tocos ensangüentados e ainda sangrando, com os ossos despedaçados e a carne triturada. Só conseguiu gritar desesperadamente.
Com tanta coisa sendo discutida por aí, das mais importantes, como o destino deste governo sendo discutido na corte mais alta do país a outras nem tanto (até é importante, sim, pois mexe, de uma forma ou de outra, com a economia e a tecnologia), como ficar 48 horas sem whatsapp, vamos comemorar o aniversário de um dos maiores compositores de todos os tempos: Ludwig Van Beethoven (245 anos), com o 1o movimento da 5a sinfonia, com o maestro Karajan e a Filarmônica de Berlim. Aprecie sem moderação, aumente o som e feche os olhos:
Vi o vídeo abaixo na página do Facebook de Daniela Felix. Vi e não queria acreditar no que estava vendo. Vi e me senti mal. Vi e não me reconheci brasileiro. Não me reconheci ser humano. Vi e fiquei sem saber direito o que pensar. Vi e perdi um pouco da pouca esperança que tenho. Vi e continuo me fazendo perguntas. Vejam vocês também:
Como comentei lá no face da Daniela, não sabia se chorava ou se chorava. Pessoas que se entendem acima de qualquer suspeita querem metralhar o garoto, pura e simplesmente. Pena de morte, pura e simplesmente. Sem julgamento, sem ouvida, sem processo, sem nada. Essas mesmas pessoas, possivelmente, que querem um país mais honesto, mais justo, mais equilibrado, com menos corrupção, com mais honestidade, com mais seriedade, com mais sobriedade. Metralhar, a moça do vídeo falou. "Tem que metralhar, metralhar. Tiro na cabeça. É isso que tem que fazer" falou a infeliz. Homens e mulheres vestido com a bandeira do Brasil batendo no rapaz. Batendo por trás, batendo e escondendo a mão. Batendo e achando que têm razão.
Embrulhou meu estômago o tratamento dos civilizados, da elite branca, dos que querem mudar o brasil. E nem porque o menino é menor ou negro, como chama o título da matéria. É porque é pobre mesmo. Quantos estão querendo linchar o banqueiro ou o empreiteiro presos? Quantos? Quantos foram lá bater na cabeça do Odebrecht ou do Esteves? O que é isso, afinal? É reflexo da indignação daqueles presentes ou a sua simples inação cotidiana descarregada contra quem não consegue se defender naquele momento?
Eu entendi bem? Aquelas pessoas estão querendo contra o moleque (que provavelmente aprontou mesmo, mas que deve ser punido na Justiça e não justiçado na rua) o que não querem para seus filhos? Metralhar? Bater na rua na frente de todo mundo?
Discuti o assunto com uma das pessoas mais importantes pra mim hoje. Ela discorda de mim, e disse que nunca vivi o trauma de um canivete no pescoço para saber o que é a raiva acumulada daquela gente. Realmente, nunca vivi. E espero nunca viver. Mas ainda assim não consigo compreender isso. Na realidade, já passei por uma situação parecida, embora não violenta. Um garoto me apontou um canivete, um baita canivete, que depois descobri tinha sido furtado da loja do pai de uma amiga da minha filha. Acompanhei o tratamento dele com a equipe do social da prefeitura. Um garoto sem referências, e que a equipe do social se esmerou em tentar recuperar.
O fato é: alguém se pergunta de onde vêm essas crianças? Elas vêm daqui?
Ou elas vêm daqui?
Não quero dizer que pobre tem que ser marginal. Bem longe disso. Só quero nos lembrar que se as condições forem as de cima, as chances de vermos garotos aprontando o que talvez o do vídeo tenha aprontado serão infinitamente maiores.
Apenas para localizar o leitor, essa foto dos meninos dormindo no chão, eu ouvi falar numa palestra promovida pela Católica SC de um professor de Direito do Rio de Janeiro se não me engano. Infelizmente não localizei o autor. Sabe traduzir a foto, caro leitor? Nada mais do que garotos de rua que, provavelmente depois de cheirar alguma coisa para matar a fome, se amontoaram uns nos outros e em cima do vão do metrô para que o ar quente lá de baixo, que subia quando a composição passava, pudesse dar algum conforto numa noite fria de inverno. Entendeu a complexidade da necessidade?
São esses garotos sem perspectiva, sem referência, sem comida, sem Estado, sem nada, que apanham dos senhores indignados com os furtos que cometem. São esses garotos que não tem pai e não tem mãe e que vão fazer mais filhos sem pais ou mães que vão acabar nos matando num assalto mal sucedido temperado com alguma droga alucinógena. A culpa é deles? Algum daqueles bonitões corajosos na frente da polícia já deu um cobertor, uma comida ou um caderno pra esses moleques?
Ou a culpa é nossa?
Bons os tempos em que metralhar e não morrer era apenas a música punk da banda do Supla.
Assistindo ao Jornal da Globo, na Rede Globo, na última segunda-feira, entre tantos mandos e desmandos na política brasileira tratados como notícias, infelizmente algumas vezes policiais, veio à tona o assunto que dominou o início da semana (com o final de semana junto), que, a essa altura, já foi atropelado pelas Catilinárias da Lava Jato (uma coisa não se pode negar: a Polícia Federal é criativa na escolha dos nomes das suas operações!! E sempre tem uma justificativa erudita e sarcástica ao mesmo tempo).
Pois bem. O jornalista Willian Waack, âncora do Jornal da Globo, soltou um comentário mais ou menos assim: o Brasil melhorou no IDH, mas não adiantou nada, pois caiu uma posição (de 74o para 75o) e foi ultrapassado pelo Sri Lanka.
Como não adiantou, cara-pálida? Se o índice melhorou, adiantou, sim. Não estamos numa competição com os outros países. Quer dizer que se o índice tivesse piorado, mas tivéssemos subido uma ou duas posições (porque outros países teriam piorado mais) seria melhor ou adiantaria? É um jogo isso e ninguém foi avisado? Quero crer que tenha sido apenas um escorregão de raciocínio num programa ao vivo, apesar do jornalista ser extremamente experiente.
Apenas para ilustrar: o IDH é medido com quatro indicadores: expectativa de vida ao nascer; expectativa de anos de estudo; média de anos de estudo (da população até o momento); e renda nacional bruta per capita. Como os três primeiros indicadores melhoraram, o IDH brasileiro passou de 0,752 em 2013 para 0,755 no ano passado. O avanço não foi maior por conta da queda na renda. Ficamos entre a primeira colocada, Noruega (0,944), e o lanterna, Níger (0,348), num ranking de 188 países.
Isso não significa, também, que não estamos andando a passos de tartaruga e que muita, mas muita coisa mesmo deve ser melhorada. Gostaria de ver o Brasil chegar lá nas cabeças. Mas os outros países também, inclusive o Níger. O mundo seria, sem dúvida, melhor.
Em sua coluna na Valor Econômico on-line, com o título Impeachment contaminado, Marcos Nobre começa assim:
"O PMDB é uma empresa de fornecimento de apoio parlamentar, com cláusula de permanente revisão do valor do contrato. Na qualidade de maior empresa do ramo, estabelece sempre o parâmetro dos preços praticados nesse mercado. Todas as demais empresas aguardam a negociação do PMDB para a fixação do preço de seus serviços. Se quiser governar, qualquer governo está obrigado a estabelecer primeiro um acordo com o líder do cartel do sistema político."
Essa definição, apesar de assustadora, não apavora pela novidade, mas, sim, pela realidade, eis que é
o que corre a boca pequena ou a boca grande há muito tempo quando se refere ao PMDB nacional. Eu mesmo já ouvi manifestações parecidas em palestras, discussões ou debates, na TV e ao vivo. O PMDB nacional está ali, dividido, fracionado, com vários caciques e suas tribos, e, diferentemente de alguns outros partidos, sem um objetivo único da porta para fora.
O articulista Marcos Nobre ainda traz uma interessante perspectiva de como a presidente Dilma Rousseff se mantém no cargo graças, por mais paradoxal que possa parecer, segundo ele próprio diz, à Operação Lava Jato e de como o impeachment pode, eventualmente, atrapalhar ums possível estabilidade alcançável por outros meios.
O panorama é um tanto sombrio. Algo do tipo, se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. Nenhuma novidade aqui, também, mas refletir é sempre bom...
Leia a íntegra do artigo de Marcos Nobre na página da Valor Econômico clicando aqui.