Bacafá

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Finalmente: pena de morte para menores infratores.

Vi o vídeo abaixo na página do Facebook de Daniela Felix. Vi e não queria acreditar no que estava vendo. Vi e me senti mal. Vi e não me reconheci brasileiro. Não me reconheci ser humano. Vi e fiquei sem saber direito o que pensar. Vi e perdi um pouco da pouca esperança que tenho. Vi e continuo me fazendo perguntas. Vejam vocês também:



Como comentei lá no face da Daniela, não sabia se chorava ou se chorava. Pessoas que se entendem acima de qualquer suspeita querem metralhar o garoto, pura e simplesmente. Pena de morte, pura e simplesmente. Sem julgamento, sem ouvida, sem processo, sem nada. Essas mesmas pessoas, possivelmente, que querem um país mais honesto, mais justo, mais equilibrado, com menos corrupção, com mais honestidade, com mais seriedade, com mais sobriedade. Metralhar, a moça do vídeo falou. "Tem que metralhar, metralhar. Tiro na cabeça. É isso que tem que fazer" falou a infeliz. Homens e mulheres vestido com a bandeira do Brasil batendo no rapaz. Batendo por trás, batendo e escondendo a mão. Batendo e achando que têm razão.

Embrulhou meu estômago o tratamento dos civilizados, da elite branca, dos que querem mudar o brasil. E nem porque o menino é menor ou negro, como chama o título da matéria. É porque é pobre mesmo. Quantos estão querendo linchar o banqueiro ou o empreiteiro presos? Quantos? Quantos foram lá bater na cabeça do Odebrecht ou do Esteves? O que é isso, afinal? É reflexo da indignação daqueles presentes ou a sua simples inação cotidiana descarregada contra quem não consegue se defender naquele momento?

Eu entendi bem? Aquelas pessoas estão querendo contra o moleque (que provavelmente aprontou mesmo, mas que deve ser punido na Justiça e não justiçado na rua) o que não querem para seus filhos? Metralhar? Bater na rua na frente de todo mundo?

Discuti o assunto com uma das pessoas mais importantes pra mim hoje. Ela discorda de mim, e disse que nunca vivi o trauma de um canivete no pescoço para saber o que é a raiva acumulada daquela gente. Realmente, nunca vivi. E espero nunca viver. Mas ainda assim não consigo compreender isso. Na realidade, já passei por uma situação parecida, embora não violenta. Um garoto me apontou um canivete, um baita canivete, que depois descobri tinha sido furtado da loja do pai de uma amiga da minha filha. Acompanhei o tratamento dele com a equipe do social da prefeitura. Um garoto sem referências, e que a equipe do social se esmerou em tentar recuperar.

O fato é: alguém se pergunta de onde vêm essas crianças? Elas vêm daqui?



Ou elas vêm daqui?



Não quero dizer que pobre tem que ser marginal. Bem longe disso. Só quero nos lembrar que se as condições forem as de cima, as chances de vermos garotos aprontando o que talvez o do vídeo tenha aprontado serão infinitamente maiores.

Apenas para localizar o leitor, essa foto dos meninos dormindo no chão, eu ouvi falar numa palestra promovida pela Católica SC de um professor de Direito do Rio de Janeiro se não me engano. Infelizmente não localizei o autor. Sabe traduzir a foto, caro leitor? Nada mais do que garotos de rua que, provavelmente depois de cheirar alguma coisa para matar a fome, se amontoaram uns nos outros e em cima do vão do metrô para que o ar quente lá de baixo, que subia quando a composição passava, pudesse dar algum conforto numa noite fria de inverno. Entendeu a complexidade da necessidade?

São esses garotos sem perspectiva, sem referência, sem comida, sem Estado, sem nada, que apanham dos senhores indignados com os furtos que cometem. São esses garotos que não tem pai e não tem mãe e que vão fazer mais filhos sem pais ou mães que vão acabar nos matando num assalto mal sucedido temperado com alguma droga alucinógena. A culpa é deles? Algum daqueles bonitões corajosos na frente da polícia já deu um cobertor, uma comida ou um caderno pra esses moleques?

Ou a culpa é nossa?

Bons os tempos em que metralhar e não morrer era apenas a música punk da banda do Supla.

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