Essa foi a chamada no programa dominical da Rede Globo, Fantástico, deste último final de semana, e que foi repetida no Bom Dia Brasil, na manhã de segunda-feira. Não muito diferente foi o anúncio chamativo da Rede Record, no seu Domingo Espetacular. Tratavam, ambas as matérias, sobre suposto assassinato de um empresário pela sua namorada de 18 anos em um motel no Rio de Janeiro.
Perguntei-me e continuo me perguntando: o que as imagens de um quarto de motel, já limpo e organizado, vão mudar na vida dos telespectadores? No que essas imagens vão interferir nos conceitos ou conclusões dos curiosos de plantão? E, mais do que tudo isso, em que a exposição dessas imagens vai ajudar na elucidação do caso ou na conclusão jornalística séria de qualquer programa de televisão? Eu, do alto da minha ignorância jornalística, acredito que em nada. Acredito piamente.
E por isso só posso concluir que este tipo de chamada sensacionalista é conseqüência do puro afã de simplesmente atrair os telespectadores pela morbidez. Por outro lado, somente o amor mórbido pela desgraça alheia pode justificar matérias com estes títulos que vidram e hipnotizam algumas pessoas. É o que eu chamo de “amórbido”, ou seja, isso mesmo que eu falei: o amor mórbido pela desgraça alheia.
Exclusivo: entramos no quarto do motel onde o empresário foi assassinado. Ora, se já era sabido que a vítima foi encontrada na garagem do estabelecimento e que o crime havia sido supostamente por estrangulamento, o que poderiam os incautos – mais curiosos do que incautos, na realidade – querer ver no tal quarto de motel? O modelo da cama? A quantidade de espelhos? Se era chique ou brega, sofisticado ou simples?
O mais triste é que nessa linha muitas outras matérias seguem. Com os títulos ou chamadas mais sensacionalistas possíveis e os conteúdos mais rasos imagináveis. E com muitos seres televisivos ávidos por tanta sanguinolência aguardando a próxima tragédia. Mesmo quando o sangue consta só da imaginação ou do título da chamada.
Além da insensatez de quem faz jornalismo desta natureza e de quem engole tais matérias, há o grande risco do linchamento público. Não quero discutir processos, em especial aqueles já com condenações, mas vamos utilizar, apenas para efeitos de exemplo, o caso dos Nardoni: será que o resultado seria o que foi se a imprensa nacional não tivesse massivamente vomitado as agruras daquela família pelas telas dos nossos televisores dia e noite?
Outros exemplos? Alguém lembra do caso da Escola Base? Aquele em São Paulo, em 1994, onde pessoas ligadas àquela escola infantil foram acusadas de abuso sexual de crianças sem qualquer fundamento, por conta da declaração infeliz de um delegado de polícia, a qual foi repercutida violentamente pela imprensa. Quando se descobriu que tudo tinha sido um engano a escola já estava completamente depredada, os donos do estabelecimento falidos e os acusados ameaçados de morte constantemente. Houve, depois, condenações por danos morais e materiais contra a Rede Globo, a Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, a IstoÉ e o Governo do Estado de São Paulo. Mas já era tarde. O mal estava feito, as famílias dessas pessoas se desmantelaram, os próprios acusados (inocentes) não viviam mais uma vida calma ou decente. O processo demorou demais, alguns morreram, outros não saíam mais de casa por conta da síndrome de pânico decorrente das ameaças, anônimas ou não.
Tantos outros casos parecidos existem: o do Bar Bodega, também em São Paulo, (que virou livro: “Um crime da imprensa”), o da menina Gabrielle que morreu em uma igreja em Joinville, entre muitos. Pessoas acusadas, linchadas pela imprensa, e que, nesse meio do caminho, perdem sua vida, pois dificilmente conseguem recuperar a tranqüilidade, a integridade física e mental e o respeito da maioria, pois serão eternamente suspeitos, carregando a pecha de marginais.
Um comentário:
muito bem colocado, raphael!!!!
Postar um comentário