Hoje em dia – e talvez desde sempre – fala-se muito sobre crianças em abrigos e orfanatos, nas ruas ou com pais ou responsáveis sem as mínimas condições de dar a segurança física e psicológica que se espera e a que têm direito.
A maioria das pessoas se compadece com as histórias e, muitas vezes, o sofrimento dessas crianças e adolescentes. E, de fato, algumas destas histórias são realmente escabrosas.
A adoção é um dos caminhos para aproximar as crianças e adolescentes órfãs ou cujos pais perderam o pátrio poder e as pessoas que querem recebê-las para formar uma verdadeira família. Entretanto, ante a importância deste instituto e as sérias conseqüências que gera para todos os envolvidos, principalmente para os adotados, todo o processo é cercado da maior e necessária cautela.
Eu, particularmente, tenho o maior apreço, consideração e respeito pelas pessoas que adotam. É, no meu ponto de vista, um dos maiores atos de amor e altruísmo que um ser humano pode demonstrar.
Por outro lado para contrabalançar as dificuldades e obstáculos que se apresentam e se impõem às adoções, OAB, Poder Judiciário, Administrações Públicas em geral e diversas entidades não governamentais desenvolvem projetos e programas para diminuir o drama de quem acorda e dorme com a esperança de ter uma nova família.
Um desses belos trabalhos é desenvolvido pela Secretaria de Desenvolvimento Social, Família e Habitação de Jaraguá do Sul, em parceria com o Juizado da Infância e Juventude, o Ministério Público e o Conselho Tutelar. Trata-se do Programa Famílias Acolhedoras.
Referido programa, que conheci em uma rápida palestra dada por uma psicóloga e uma assistente social em uma reunião do COMDECON, objetiva preparar famílias para acolherem provisoriamente crianças e adolescentes.
Essas famílias temporárias são o elo, o período de transição, segundo o programa, entre a família destituída e a família que adotará a criança, caso um dia esta apareça. Como diz o folheto de divulgação do programa “uma família substituta representa a continuidade da convivência familiar e comunitária em ambiente sadio, onde a criança pode expressar sua individualidade e ter o seu sofrimento minimizado diante da crise em que se encontra”.
É importante destacar, aqui, que essas famílias não vão receber as crianças e adolescentes como filhos e, também e mais importante, que não vão poder adotá-las. Todos os envolvidos, tanto as crianças e os adolescentes, quanto as famílias acolhedoras, são esclarecidas, estudadas e preparadas e ainda recebem um acompanhamento multidisciplinar durante todo o período de relacionamento. O que existe, de fato, é uma bela parceria entre estas famílias e as autoridades constituídas para atender e preparar esses menores às famílias de origem ou à adoção. Outro aspecto de suma importância que deve ser lembrado é que existe tempo máximo de permanência das crianças e dos adolescentes nas famílias acolhedoras.
Este é mais um bonito trabalho que demonstra que a importância da preocupação social e que a união de esforços podem promover resultados que beneficiarão a sociedade como um todo.
16 comentários:
Raphael,
segue uma matéria que mostra a dedicação do programa:
Família Acolhedora
Uma escolha do coração
Dona de casa conta sua experiência de acolher em sua casa, crianças por tempo indeterminado
“Deus coloca essas crianças em minha vida. Ele tem um grande projeto para elas”. É dessa forma que M. (nome preservado à pedido da entrevista) define todo seu trabalho em acolher crianças em situação de risco. Ela faz parte do projeto Família Acolhedora de Jaraguá do Sul há seis anos, mas seu amor incondicional já vem de longa data. Desde a década de 80, realiza trabalho assistencial. Em sua casa, já passaram 29 crianças e adolescentes. Um amor que ultrapassa fronteiras e não exige nada em troca.
Maria casou na década de 80 e nesta época descobriu que não podia ter filhos. Sempre teve o desejo não somente de ser mãe, mas de ajudar crianças em situação de risco. “Em 87, assisti pela televisão um desmoronamento de um prédio. Uma criança ficou nos escombros por quatro dias e saiu viva. Aquilo me comoveu tanto, chorei muito e pedi a Deus que pudesse ajudar mais as crianças”. No mesmo ano, uma menina de cinco anos, que vivia em situação de risco, apareceu em sua vida. Maria a adotou, assim como mais quatro crianças.
Não queria mais filhos adotivos, mas tenha o anseio de auxiliar outros meninos, sempre com o apoio de assistentes sociais do fórum. Deixou de trabalhar e passou a dedicar-se em tempo integral a quem precisava de seu amor, sempre com o apoio incondicional do marido. O casal passou por dificuldades, mas nunca desistiu. “Cheguei a fazer estopa para aumentar a renda da casa. Encontrávamos em Deus, força para continuar nosso trabalho”, reforça.
Como já apresentava um perfil, em 2006 foi convidada a participar do programa Família Acolhedora. Com o auxílio da equipe do programa, Maria cuida de crianças por tempo indeterminado. “Temos orientação pedagógica, psicológica, reuniões todo mês. É um programa maravilhoso. Eu cresci muito no Família Acolhedora. Quero cuidar de muitas crianças até onde Deus me permitir”, diz.
Ampliar número de famílias
O programa Família Acolhedora consiste em famílias cadastradas que se oferecem para cuidar, temporariamente, de crianças e adolescentes em situação de risco dentro da própria casa. Em Jaraguá do Sul, há 28 crianças retiradas de seus lares por tempo indeterminado.
Dessas, sete ficam em quatro casas. Mas ainda há 21 que ficam no abrigo provisório municipal. “É importante que essas crianças estejam em um clima familiar. Precisamos de pessoas que queiram acolhê-las por tempo indeterminado e tenha disponibilidade de tempo”, afirma a coordenadora do programa, Euci Cristofoloni.
É importante salientar que o programa não tem nada haver com adoção, por isso a importância de famílias que não pensem nisso e sim em acolher essas crianças por um período determinado. Enquanto a família acolhedora cuida da criança ou do adolescente, a equipe do programa realiza um trabalho de apoio e auxílio ao fortalecimento da família de origem.
Requisitos para ser Família Acolhedora
Residir no município de Jaraguá do Sul;
Ter mais de 21 anos, sem restrição de sexo e estado civil;
Ter aceitação de todo o grupo familiar com a proposta de acolhimento;
Ter disponibilidade para participar do processo de habilitação e das atividades do programa;
Não ter interesse em adoção;
Mais informações através do telefone 47 – 3276-0424.
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