Texto de ALEXANDRE ROCHA LOPES
Acredito que temos hoje uma oportinidade rara que está para ser desperdiçada.
Não é novidade o fato de que há uma dificuldade financeira que cerca, praticamente, todos os países. Dizer que este, aquele, ou o nosso país é imune, não reflete a realidade.
Por mais que haja especulação nas grandes economias (americana e européias), para que alguns ganhem em cima de outros e, então, após um perído de bons resultados para uns (especularodes, empresas privadas, bancos... e outros que podem se aproveitar da situação), as coisas voltem ao normal, durante este período que não se sabe o quanto durará, há pessoas, grupos, instituições, empresas, Estados que estão perdendo muito.
Falências já foram anunciadas, cogitam-se outras (grandes empresas automobilisticas, bancos...)...
Dinheiro público, do cidadão, sendo utilizado para 'salvar' empresas... Redução e eliminação de turnos de trabalhos.... Demissões que já ocorreram, demissões que estão sendo anunciadas. Desempregados, aqui, nos EUA, na Europa... Pessoas, famílias tendo que sair de casa, morar em abrigos, sem possibilidade de pagar a hipoteca, o financiamento de seu sonhado imóvel, e, ironicamente, bancos re-vendendo estes imóveis a US$ 1,00 (UM DÓLAR), pois assim liberam uma despesa de suas costas e passam a ter outro credor.... afinal esta é a entrada de uma nova hipoteca. Mas quem conseguirá pagar depois?
E nós, teoricamente, até o momento sem sermos fortemente abalados. Até quando? Se as exportações pararem? Afinal, não estão conseguindo ter dinheiro para comprar. Ou, se ainda possuem, podem preferir comprar dentro do país, para auxiliar o fluxo monetário local. Se as importações pararem? Afinal, não estão conseguindo produzir. E se a moeda americana, o dólar, desestabilizar desenfreadamente? Terá gente que dirá: "O Banco Central não permitirá, temos (país) boas economias, mexerá nas taxas de juros, fará leilão de dolár. Já esta fazendo e está funcionando."
Sim... até o momento, mas o dólar não é unico nos EUA e no Brasil. O problema deve atingir, como já vem se mostrando, outros países. A questão não é somente nossa. Vamos supor que o Banco Central realmente 'segure' todo o problema. O quanto de nossa economia terá ido? Teremos reserva para investimentos? Teremos saldo para trabalhar as metas de inflação? Ou como conseqüência voltaremos a ter, após a grande crise mundial, uma crise brasileira. E quem será afetado? Nós.... Os outros? Ajudarão, sim.... no que lhes for conveniente. Emprestarão dinheiro para nos estabilizarmos. Pronto.... Resolvido? Ahhh... daí anos depois irão lembrar.... foi 'aquele' governo que pegou dinheiro emprestado a juros altos.... por isto a nossa Divida Externa aumentou tanto. Problema postergado.... somente isto.
Vislumbro, então, uma possibilidade. Uma que não é novidade. Uma que há muito se fala e pouco, muito pouco, se faz. O que os Governos de todos os países vêm tentando fazer? Aumentar o crédito dos cidadãos para que estes possam voltar ao seu cotidiano. Dinheiro no bolso significa possibilidade de aquisição, possibilidade de investimento e possibilidade de ganhar mais dinheiro. Sim... dinheiro pode gerar dinheiro. Uma pessoa que investe seu capital e cria, abre uma empresa, gera mais dinheiro. Vai empregar outra pessoa, que receberá um salário. E assim outros venderão para estes e também passarão a ganhar.
E como eles estao fazendo mundo afora? Aumento salário desemprego, que definitivamente não é a solução, é apenas um gasto a mais. Usar, como mencionado acima, dinheiro do contribuinte para dar aos bancos, ou às empresas 'mais' necessitadas. Comprando empresas e assumindo seus prejuizos.
Não acredito que gostaríamos de ver o nosso Governo fazendo igual. Sim, virão falar: " Mas se os Governos Espanhol, Alemão, Britânico, Japonês, Norte-Americano fizeram e 'funcionou' por que o nosso nao deveria fazer igual?"
Porque no momento nós temos algo por fazer que eles já fizeram anteriomente. E nós, devido a demais interesses, não conseguimos fazer. Se queremos que o nosso contribuinte tenha mais capital, dinheiro no bolso, chegou a hora de fazer o que já devia ter sido feito e se tivesse sido feito estaríamos numa posição ainda mais privilegiada.
REFORMA TRIBUTÁRIA. Já deve ter ouvido falar alguma vez. Mas somente falar, correto? Foram feitas alterações? Sim, foram. As realmente necessárias? De forma alguma.
Sabemos que trabalhamos, tranqüilamente mais de 3 meses para pagar tributos que infelizmente não são revertidos a nosso favor. Se a REFORMA correta for realizada agora, como já deveria ter sido feita, teremos mais dinheiro no bolso. Poderemos investir, comprar, poupar mais. E conseqüentemente nossa Nação sairá ganhando. Não quer dizer que ficaremos imunes à crise, mas estaremos, com certeza, mais preparados para enfrentá-la. Seja como cidadão, seja como governo.
Provavelmente ouviremos falar que no momento não seria possivel pôr tal questão em plenário devido às discussoes que este tema levantaria. E, como sabemos, estamos no final do ano (na prática você vê vontade política daqueles que você elegeu? Mas quando a questão é fazer uma sessão extraordinária para votar um aumento salarial deles, eles conseguem e trabalham até nas férias). Não devemos nos deixar levar por tal argumento. Colocamos-os lá para que nós (eu, você, seus pais, seus irmãos, seus amigos, sua familia) tenhamos um país melhor, e não para que eles tenham uma situação melhor.
Enfim, na minha opinião, podemos sair ganhando com a crise. Sim. Crise serve para aprendermos, para crescermos e nos destacarmos. E, quem sabe?, não seja a nossa hora. De nos fortalecermos economicamente e sermos, assim, devidamente reconhecidos mundialmente pelo que somos e não esperar ser reconhecidos pelo que um dia poderemos vir a ser.
Um comentário:
Apesar de não ter a formação do meu irmão e de trabalhar com termômetros diferentes do dele (que trabalha no BB), discordo parcialmente dessa visão quase apocalíptica.
Há, sim, o risco de uma quebradeira, mas penso que seja ínfimo. O Brasil tem que tomar algumas cautelas, mas já aprendeu a viver com crises em seu passado recente, coisa que muitos dos outros países não sabem.
O maior risco que corremos, no meu ponto de vista, é a de alguns empresários começarem a se aproveitar do efeito "medo" para aumentarem mais do que devem seus produtos. Ou de todo mundo ficar com medo e simplesmente parar de consumir. Tanto um quanto outro causariam problemas sérios.
Acredito que o tsunami econômico chegará da Europa e dos EUA aqui como um marola. Só os desatentos cairão com ela. O dólar vai descer (não aos índices que estavam, óbvio. Provavelmente na média entre o que estava e o que está agora), as coisas vão volta ao normal e o Brasil com chances de se destacar.
Quanto à reforma tributária, concordo que é necessária. Discordo que não foi feito nada. Os tributos são necessários e o problema no Brasil é apenas que é mal aplicado. Penso que foi uma perda para o país o término da CPMF, pois era o tributo que mais gerava preocupações aos verdadeiramente ricos. E não vi os preços diminuírem depois que a CPMF caiu.
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