Mais alguns trechos, conforme prometido, do livro A grande arte, de Rubem Fonseca:
"Man created death" é a frase que mais aparece. Essa frase me fez pensar muito. O homem criou a morte. Porque sabe que a morte existe, o homem criou a arte, um pensamento nietzschiano. O nome do pensador alemão também aparece na balbúrdia de anotações. "Birth, copulation and death" é a segunda frase que mais aparece, e esta, como a outra, também me fez refletir demoradamente. Nascimento, cópula e morte. Afinal, isso talvez fosse, também, a história da minha vida. De todas as dívidas.
O negrito é por minha conta, mesmo. Será a arte uma forma de escapar da morte. De imortalizar a nossa vida?
O livro é de 1983, mas em certos momentos parece assustadoramente atual. Assustadoramente porque fica-se com a impressão que as coisas pioraram. No trecho a seguir, o narrador está falando de um soldado da PM que foi expulso da corporação por homicídio, chefe de um grupo de "proteção a comerciantes", e de um membro dessa gangue.
Eronides orgulhava-se de nunca ter matado um inocente. "A gente tem de ter certeza de que o cara é mesmo um assaltante peçonhento. Só então a gente vai lá e justiça ele." Mateus participou, com o grupo, da morte de quarenta e oito "vagabundos e bandidos".
Quem é o bandido mesmo? Este é o verdadeiro Estado total: investiga, acusa, julga e executa. Tudo junto. E sem apelação. Qualquer semelhança com a atual realidade deve ser pura coincidência com a ficção...
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