Bacafá

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quinta-feira, 2 de julho de 2009

O desconhecimento da origem das palavras.

Como pode ser constrangedor o desconhecimento das coisas. Claro, ninguém precisa e nem tem condições de saber de tudo. Mas, em certas situações alguns cuidados são, no mínimo, necessários.

Quando se dá, por exemplo, o nome a uma loja imagina-se que o seu proprietário ou idealizador fez uma pesquisa mínima sobre a origem do nome escolhido.

Quando se usa uma camisa com frases em outra língua, para não se passar vergonha em público, é de bom alvitre pelo menos uma bisbilhotada em algum dicionário de bolso.

Pois bem. Dia desses vi uma loja chamada Lolita, de roupas femininas. Quem conhece um mínimo de literatura sabe que esse também é o título de uma das obras mais comentadas e polêmicas de todos os tempos, do russo naturalizado americano Vladimir Nabokov. É a história de Humbert Humbert, um professor que se apaixona pela enteada, uma criança de 11 ou 12 anos. O livro foi taxado de pornográfico e chegou a ser recusado por diversas editoras.

Entretanto não há uma cena explícita de sexo, apesar de ser extremamente agoniante. Nabokov demonstrou toda sua qualidade literária nessa obra. Recomendo, mesmo.

De todo modo, lolita (apelido que o professor utilizava para chamar sua enteada) foi uma palavra inventada pelo escritor nesse livro, assim como ninfeta (uma brincadeira com a palavra de origem grega ninfa). E ambas significam a mesma coisa: meninas sexualmente atraentes ou sedutoras.

Bom, se essa foi a intenção da dona ou dos donos da loja, tudo bem. Se o escolheram simplesmente porque acharam bonitinho, então estão vendendo “meninas sexualmente atraentes” em suas vitrines.

Ok, ok: pode ser que o nome da loja seja uma referência a uma cidade no meio do mangue no Estado do Texas nos EUA, com pouco mais de 500 habitantes. Ok, pode ser, também, uma referência ao apelido que alguns espanhóis usam para Dolores.

Um comentário:

Nine H. disse...

Ótimo texto! Parabéns pelo Blog.
Ao ler-te, lembrei-me de uma camiseta usada por uma moça com ares recatados, onde se lia em letras garrafais, a seguinte frase: SUCK ME!
Era desconcertante conversar com ela, posto que, mesmo que por simples coincidência ou por proposital ironia, tanto a primeira sílaba da frase como a última, repousavam soberanas sobre cada um dos seios da vítima do ludíbrio.
Eu, como mulher, me senti na obrigação de alertá-la, ao que ela, mais que envergonhada, entre risos espasmódicos, me respondeu dando de ombros:_”eu não sabia, mas talvez, essa seja a única forma de que assim eu o consiga”.
E então, a vergonha que era alheia, se apropriou do meu rosto e seu riso nervoso me contagiou.
E lembrei-me da máxima: “ homo sum humani a me nihil alienum puto”.