Foi a defesa que a família daquele apartamento encontrou contra os riscos de uma bala perdida de, talvez, endereço certo.
Fiquei pensando aquilo que todos (ou quase) costumamos pensar nessas horas: em que mundo estamos? O cidadão compra um apartamento com janela justamente para não se sentir completamente trancado, completamente privado da vida do lado de fora. Para poder apreciar alguma coisa na rua ou no céu de vez em quando. Dar uma respirada, ou simplesmente ficar lá, com ou sem olhar fixo. Uma fuga dos pensamentos ou de si mesmo. Não interessa o motivo; o que interessa é que a janela está lá para isso.
Ou estava.
Não sou morador de cidade grande. Onde moro dizem que tem 140 mil habitantes, um pouco mais um pouco menos. Com ar de província, apesar da criminalidade crescente e de um presídio com mais de 300 pessoas onde deveria caber 70. Entretanto, como os que acompanham esse blog sabem, fui com minha filha, em maio, para o Rio de Janeiro passar uns dias e especialmente para ver a conquista do penta-tri-campeonato carioca pelo Flamengo.
Escrevi, naquela época, aqui, que não me senti em nenhum momento inseguro. Mas nosso roteiro cingiu-se a alguns pontos turísticos, além de Copacabana, onde ficamos. É possível, bem possível, que a vida de quem vive lá seja pior, bem pior. Ou talvez isso que vemos na televisão seja apenas uma criminalidade midiática. Não consigo uma conclusão definitiva porque já ouvi as duas versões, inclusive de quem mora lá.
O fato é que, como ouvi o Secretário de Segurança Pública de Santa Catarina falar em uma reunião, semanas atrás, segurança é uma questão de sensação. Sentimo-nos ou não sentimo-nos seguros. Tem gente que se sente segura em São Paulo ou no Rio de Janeiro e tem gente que se sente insegura em Jaraguá do Sul ou Pomerode. Concordo com o Secretário que esse é um fator pessoal.
Mas não podemos esquecer que essa tal sensação de insegurança está aumentando progressivamente. A cada dia mais gente se sente insegura. Realmente é uma sensação pessoal, mas que já passou a ser coletiva.
Condomínios fechados e com altas grades. Interfones, câmeras, alarmes. Celulares para acompanhar passo a passo ou minuto a minuto onde os filhos estão. Preocupações cada vez mais sérias com horários noturnos. Não dá sequer para imaginar namorar em um carro como se fazia não muito antigamente. Nem no Rio de Janeiro nem em Jaraguá do Sul. E agora, o cúmulo do medo: janelas muradas.
Afinal, pra que janela? Pra ver pássaros voando? Nuvens formando caricaturas no céu azul? Folhas verdes balançando ao vento nas árvores? Crianças jogando bola e correndo na rua? A vizinha descuidada do prédio da frente? Os aposentados jogando dominó na praça? Pra respirar um pouco de peito aberto depois de um dia estafante de trabalho? Pra expirar pra fora a fumaça do cigarro fumado? Pra simplesmente tomar um ar? Pra que janela?
Daqui a pouco viveremos encaixotados em bunkers.
Quem quiser ler a reportagem fonte da foto acima clique aqui.
Um comentário:
Oi Rafhael, tudo evidentemente, para se proteger do tal risco, que nos acompanha e não temos outra coisa a fazer.
Preocupações cada vez mais sérias, meu amigo.
Um grande abraço
Ângela
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