Bacafá

Bacafá

quinta-feira, 1 de março de 2012

Discurso como paraninfo da turma de Direito da Fameg, em 25.02.2012.

Pela honra, orgulho e alegria que senti em ser convidado para ser paraninfo da turma de Direito da Fameg que colou grau no último sábado, transcrevo meu discurso:

"Senhor Diretor da Fameg Uniasselvi, Gonter Bartel, demais componentes da mesa, autoridades, senhores e senhoras, e em especial, caríssimos alunos e seus parentes, boa noite.

Hoje não é o fim de uma jornada ou o início de outra, mas é a transição dentro de um mesmo caminho, que se iniciou lá no primeiro dia de aula. É fruto da vontade e do empenho. E como dizia Schopenhauer, o homem é uma máquina de desejar que não pode ser desligada. Por isso sempre avança, sempre se aprimora, sempre quer mais.

Nesse momento de transição muitos filmes devem passar pela cabeça e memórias dos senhores. As lutas, as conquistas, as decepções. E muito trabalho, árduo trabalho. Tudo isso sendo coroado nesta data.

Mas como eu disse, o caminho não tem fim e, assim, a jornada continua.

Os senhores formandos, e aqui especialmente os estudantes de Direito, devem todos os dias refletir sobre a vossa função na sociedade.

Sejam como administradores, contadores, magistrados, promotores de justiça e principalmente como advogados, não podem esquecer jamais de que a labuta justa enobrece o homem e o faz ser valorizado no seu meio.

O status, caríssimos, serve apenas para os falsos amigos ou os interesseiros. Não que não precisemos de dinheiro. É claro que sim. Mas não pode ser, o dinheiro, o norte das nossas vidas. Não pode ser o maior estimulante de nossas ações.

Nós devemos ter prazer. Devemos sorrir. Devemos tentar. Devemos fazer diferente e buscar o melhor. E quando falo o melhor, não deve ser só o melhor para si, deve ser o melhor para si somado ao melhor para a sociedade.

Está mais do que na hora de deixarmos de sermos ensimesmados, de querermos cuidar apenas dos nossos próprios umbigos. Caros formandos, sejam fortes, sejam corajosos, mas sejam também gentis.

Sorriam.

Se me permitem, gostaria de perguntar aos presentes quem deu um sorriso hoje. Quem sorriu espontânea e verdadeiramente. Se a tensão do dia da formatura ainda não permitiu, que o façamos agora.

Vamos sorrir para as pessoas que queremos bem. Vamos olhar para o lado e sorrir. E não vamos ter vergonha de sorrir. Um sorriso, todos sabemos, abre muitas portas.

Contudo, óbvio, sorrisos apenas não bastam. Dedicação, trabalho, estudo, muita leitura, e leitura de todos os tipos, são o mínimo para que os senhores alcancem o tão almejado sucesso.

Aqui lembro de uma história de quando eu era pequeno. Minha avó sempre contava. Ela, viúva jovem, conseguiu dinheiro emprestado com o irmão para montar uma loja de fazendas, de tecidos. Duas das três filhas trabalhavam com ela. Entretanto, as clientes da loja sempre pediam para ser atendidas por uma delas. Sabe por que, perguntava minha avó para seus netos. Porque eles queriam aquela mocinha que sempre sorria e mostrava todos os tecidos, inclusive os que estavam nas prateleiras mais altas. Sempre sorrindo. E nunca se importando de guardar tudo de novo. Não queriam a outra menina que estava sempre de cara amarrada e que, quando a cliente pedia pra ver o da prateleira mais alta, apontava pra um corte da prateleira mais baixa dizendo que era parecido.

Concluía minha avó: façam as coisas bem feitas e com prazer. Ou parece que nada vai pra frente. Sábios ensinamentos.

E eu digo mais. Fiquem atentos para que seus atos sejam sempre guiados pela ética, pelo bom senso e pela serenidade. Trabalhem com paixão, com vontade, e com, repito, serenidade. Os frutos virão, sem dúvida, se o trabalho for dedicado.

Albert Camus já dizia que “os grandes sentimentos levam consigo o seu universo, esplêndido ou miserável”. Depende apenas dos senhores se será esplêndido ou miserável.

Lembrem-se das suas trajetórias até chegarem neste importante ponto de suas vidas. Lembrem das trajetórias dos seus pais. Das dos seus avós. De seus amigos. Conquistar o que os senhores estão conquistando hoje é para poucos. Os senhores fazem parte de uma pequena parcela de cidadãos brasileiros que possuem diploma de nível superior.

Então valorizem. Valorizem cada suor ou lágrima derramados. Cada final de semana enfurnado dentro de casa estudando. E, mais do que isso, cada aprendizado acumulado.

Porém, não se esqueçam de andar descalços na grama ou na areia, de cantar no chuveiro, de jogar bola ou brincar de boneca com seus filhos. Não parem de ler gibis, de dar uma gargalhada ou outra de vez em quando.

Não tenham medo ou vergonha de chorar, mas não choraminguem o tempo todo. Valorizem-se. Não percam os velhos amigos de vista. Festejem. Pulem de alegria. Gritem de alegria. Gritem de raiva. Extravasem. Sejam vocês e não sejam bonecos. Falem com os ricos e com os pobres do mesmo jeito. Sejam simples sempre. Ajudem sempre que puderem. E peçam ajuda sempre que precisarem. Guardem a arrogância na gaveta mais funda e joguem a chave fora. Distribuam gentilezas. Divirtam-se. Amem. Mas amem com paixão. Amem a profissão que escolheram. Sejam intensos.

Por fim, quero dizer que cultuem a alegria, que costuma caminhar de mãos dadas com o trabalho prazeroso e a honestidade. E sonhem, sonhem bons sonhos, meus amigos, pois afinal, como Shakespeare já dizia, “o homem é feito da matéria de seus sonhos”.

Saúde, sucesso e serenidade a todos.

Obrigado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigada Professor!
O discurso foi maravilhoso e muito emocionante.


Abraços
Angélica Sonntag