De um dos contos mais famosos do filósofo e escritor Jean-Paul SARTRE, "O muro", trouxe o seguinte trecho para dividir com vocês:
"... levava tudo a sério, como se fosse imortal.
Neste momento, tive a impressão de que teria toda a vida pela frente e pensei: 'É uma grande mentira'. Não valia nada, pois havia acabado. Perguntei-me como conseguira passear, diverti-me com mulheres; não teria movido um dedo se imaginasse que acabaria desse jeito. Tinha toda a vida diante de mim, fechada como um saco, e entretanto tudo quanto estava lá dentro continuava inacabado. Tentei, num momento, julgá-la. Quisera dizer: foi uma bela vida. Mas não podia se fazer um julgamento, pois ela era apenas um esboço; eu passara o tempo todo fazendo castelos para a eternidade, não compreendera nada. Não tinha saudades de nada; havia uma porção de coisas das quais poderia sentir saudades, do gosto da manzanilla, dos banhos que tomava no verão numa enseadinha perto de Cádis; a morte, porém, roubara o encanto de tudo."
O personagem que faz essa reflexão está em uma situação limítrofe, que não vou contar aqui para não estragar aos que se interessarem pelo conto. Entendo a posição dele, mas tendo a não concordar.
Mais adiante ele continua pensando:
"No estado em que me achava, se viessem me avisar que eu poderia voltar tranquilamente para casa, que a minha vida estava salva, eu ficaria indiferente; algumas horas ou alguns anos de espera dão na mesma, quando se perdeu a ilusão de ser eterno".
Autor ácido em relação às coisas prosaicas da vida e ao comportamento humano padrão.
Recomendo.
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