Não sei se todos os expectadores (amantes ou odiadores) do Big Brother Brasil sabem que o reality show (de formato criado pela Endemol, empresa de televisão holandesa) foi inspirado no livro 1984, de George Orwell. Nessa obra existe um Grande Irmão que tudo sabe e tudo vê. As pessoas não têm vida própria, a não ser que façam parte da patuleia excluída ou da elite restrita. Os cidadãos comuns são condicionados, inclusive e principalmente, a não ter prazer. Não quero dar um spoiler a quem ainda não conheceu a obra que, a meu modesto ver, é de leitura obrigatória.
Não sei, também, se todos os que leram 1984, leram igualmente Admirável mundo novo, de Aldous Huxley. E que sempre há comparações entre estas duas obras-primas, mesmo com os 16 anos que as separam (Admirável, de 1934 e 1984, de 1948). Aqui da mesma forma há um controle geral sobre população, com classes ou castas bem definidas, e todos, privilegiados ou não, igualmente condicionados, inclusive e principalmente, para ter prazer. Não quero dar spoiler a quem ainda não leu a obra que, a meu modesto ver, é de leitura obrigatória.
Pois bem. Duas visões de um mundo distópico narradas há 70/80 anos. Confesso que de vez em quando me sinto algo entre Admirável Mundo Novo e 1984. Estamos cada vez mais cercados por um Grande Irmão, que tudo vê e tudo sabe, e, a cada dia que passa, mais observados, vigiados e sem privacidade. Estamos, ainda, cada vez mais exasperados por beleza, felicidade e perfeição, tomando injeções diárias de felicidades (alheias) através das redes sociais.
Somos o umbigo do mundo. Todos e ao mesmo tempo. Queremos ser tudo, sempre. E esquecemos dos detalhes.
Hoje não repetirei o que já falei sobre (in)segurança na internet e nem nos acessos a nossas informações, nossas contas e nossas casas pelos crackers, bandidos da modernidade, ou hackers do mal, como queiram. Nem sobre ransomware, malware, trojans e afins.
Mas é importante que lembremos que, a não ser que sejamos completamente desconectados, nossa vida está aí para quem quiser saber. RHs não olham apenas o nosso LinkedIn ou nosso currículo Lattes para conhecerem nossas competências. Hoje eles dão uma gulgada ou entram no nosso Facebook e Instagram, dentre outras redes sociais. A Receita Federal não compara apenas nossos extratos de contas bancárias para saber se o IR está corretamente declarado. O Leão, com seu focinho enorme e seus computadores maiores ainda, também fuça nossas redes sociais para descobrir se há compatibilidade de patrimônio. O Ministério Público da mesma forma. Os pretendentes a namoro não fogem à regra. E por aí vai...
Parece que há mesmo um Grande Irmão, ainda que mais ao estilo Matrix. Só não descobri ainda se o Selvagem tinha razão...