Bacafá

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quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Dilma e Collor ou Collor e Dilma: quem vai perder, todos nós já sabemos...

Eu fui um dos cara-pintadas lá nos idos de 1992, a caminhar pela Avenida Beira-mar de Florianópolis, entre a UFSC e a Catedral Metropolitana. Sim, eu fui. Só não pintei a cara, mas estava todo de preto num calor dos infernos. Foi bonito ver aquele povo todo se unindo em prol de uma causa, e com a esperança de que as coisas realmente mudassem. E mudaram. Já chego lá. Tempos depois me senti meio usado como massa de manobra (e não me entendam mal, mas Karl Marx já dizia, lá em 1800 e alguma coisa, que a opinião pública é a opinião da classe dominante desse povo. Parece-me que faz algum sentido, embora o prisma dele tenha sido revolucionário e o meu, agora, meramente observatório).

Voltando. Collor na berlinda. Muitas acusações e suspeitas, nem tantos elementos concretos. Outros tempos, sem internet, sem celulares, sem whatsapp. O caçador de marajás estava na alça de mira. Se do povo indignado ou dos políticos ou empresários contrariados, bem, cada um com suas conclusões. O fato é que o homem sofreu o impeachment e anos depois, renovado, tatuado e com alguns super-carros na garagem (tudo bem, ele nega que foram comprados com dinheiro de propina), posa de senador da República.

As coisas mudaram. Nesse meio tempo um sociólogo e um metalúrgico assumiram o poder. O primeiro esqueceu o que escreveu (ou pediram para que esquecessem) e o segundo esqueceu o que era ser pobre (fiquemos só com o Romanée Conti 1997 que bebeu com seu marqueteiro em 2002; não quero nem entrar na discussão das fortunas que dizem por aí). E agora como presidente temos Dilma Rousseff, a senhora dos ventos, ou senhora mandioca, ou o substantivo que vocês quiserem utilizar para adjetivar a chefe do executivo federal. Imagino, eu, que a pressão que ela deve estar sofrendo é algo inimaginável para nós, meros seres humanos mortais. Isso, com uma possível batelada de remédios tarja mais que pretas, é o que pode justificar esses desvarios de eloquência. Virou piada, infelizmente. Quando o maior mandatário do país vira piada, paradoxalmente temos que chorar, e não rir.

Mas as coisas mudaram, mesmo. Antes o instituto do impeachment foi utilizado como uma bandeira democrática pelo PT contra o corrupto Collor da Elba. Hoje o PT defende que é golpe utilizarem-se deste remédio contra um governo eleito democraticamente (ué? O do Collor não foi? - também não quero entrar na seara da sacanagem que a Globo fez com a edição do último debate entre Collor e Lula), não obstante as cifras bilionárias que aparecem a cada dia. E para demonstrar o quanto as coisas incrivelmente podem mudar, quem está do lado do PT tentando salvar a pele da presidente?: ele, o presidente impedido, Collor de Mello.

É, o mundo dá voltas. É redondo (apesar de eu ter descoberto recentemente que nem redondo é).

Bom, a questão é que o paladino da justiça (??!!), Eduardo Cunha, tecnicamente (ah, vá!) entendeu que a abertura do processo poderia se dar. Prerrogativa dele. Vamos ver o que seus pares dizem, até porque dois outros caciques paladinos da moralidade (??!!), embora da outra casa, estão com discursos divergentes, os nobres Jader Barbalho e Renan Calheiros.

Quem vai ganhar essa queda de braço, não sei. Quem vai perder, todos nós já sabemos...

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