Semana passada tratei da adulteração
infantil praticada pelos parentes próximos, normalmente pelas mães, tias e avós
contra as meninas. Não só contra estas, e nem só por aquelas, é verdade. Mas
normalmente são as meninas as que mais sofrem com o amadurecimento precoce
decorrente das maquiagens, roupas, acessórios e assuntos que lhes são
empurrados goela abaixo. Por um lado, fiquei feliz, pois recebi muitas
manifestações concordando com a minha indignação; por outro, preocupado, pois
muitas destas pessoas que a mim se dirigiram disseram, também, que infelizmente
estão a ver mais e mais situações como estas.
Alguns amigos vão rir, mas entendo que
boa parcela de culpa desta situação é, além da ausência de conversa dentro de casa
e perda de valores básicos, a falta de leitura. As pessoas têm lido pouco, e em
todas as classes sociais. E, pior, têm simplesmente trocado a leitura (de bons
livros) pelos programas destrutivos da TV, que, muitas vezes, emporcalham
corações e mentes, pois é de mais fácil digestão para quem não adubou o hábito
da leitura. Uma coisa leva a outra, e sobre isso eu poderia escrever aqui
algumas páginas. Afinal, como já disse Ernesto Sábato, a televisão nos
tantaniza, com aquelas cores e brilho hipnotizantes.
Entretanto, hoje quero falar de outro
ponto da adulteração infantil: da publicidade voltada às crianças. É sabido que
a cada ano que passa os pais se deixam cada vez mais levar pelas vontades dos
filhos. As razões são as mais variadas. Vão desde a completa falta de domínio
dos filhos por incapacidade de educação até à consciência pesada pela ausência
decorrente dos inúmeros compromissos (que muitas vezes nem do trabalho são). E
as indústrias e agências de publicidade, que não são bobas, se aproveitam desta
fraqueza dos pais.
O filho está boa parte do dia em
frente à televisão vendo seus programas infantis recheados de merchandising,
sendo que a criança pensa que o apresentador realmente consome aquele produto
que diz que é bom. Isso sem contar os efeitos especiais que supervalorizam os
produtos ou serviços oferecidos. Se os adultos se impressionam, imaginem as
crianças.
Por isso, sou daqueles que defendem
radicalmente a proibição de publicidade de produtos e serviços para o público
infantil na televisão aberta, nos canais infantis da televisão fechada e nas
revistas para crianças e adolescentes. Quem tem que decidir se o produto é bom,
e ser convencido disso, são o pai e a mãe, e não os filhos.
Há projetos de lei tramitando no
Congresso Nacional sobre o assunto. O tema é polêmico, porém, e o lobby das
agências e das indústrias muito forte. Fala-se, até, em liberdade de expressão,
o que, no meu ponto de vista, é um engodo. Um problema ainda maior é a
internet, mas aí é tema para outra discussão.
Quem quiser ter ideia da gravidade que
é a publicidade para o público infantil assista o vídeo abaixo, “Criança, a alma do
negócio”:
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