Bacafá

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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Carlos Henrique Schroeder na FLIP.

Deu no Portal de O Globo:


Na última segunda-feira, o escritor catarinense Carlos Henrique Schroeder, 35 anos, mandou uma carta ao jornal Diário Catarinense, onde publicava crônicas semanais havia cinco anos: não escreveria mais. A decisão nada tinha a ver com a viagem marcada para a Flip dois dias depois, é bom que seus leitores saibam. Mas com uma necessidade cada vez maior em escapar da realidade – nisso os prazos apertados para a entrega das crônicas não o ajudavam – e entranhar-se na ficção. Abrir mão de uma coluna regular parecia um passo arriscado para um jovem escritor de Jaraguá do Sul, cidadezinha do interior de Santa Catarina (mais famosa pela indústria têxtil do que pela tradição literária). Mas não para Carlos. Apesar da pouca idade, ele já consegue viver de literatura. Autor de dez livros, entre teatro, contos e romances, ganhador de um bocado de prêmios e um dos principais agitadores culturais do seu estado, Carlos está na Flip para cumprir uma agenda apertada: participou de duas mesas neste sábado e no domingo, às 16h30, lança a graphic novel “Ensaio do vazio” (7 Letras), adaptada por cinco ilustradores do seu romance homônimo, de 2006.

- Se alguém abrir um motor de um carro na minha frente, não saberei diferenciar de um pudim. Desde criança eu vivo para a literatura. É só o que gosto de fazer: ler e escrever. Perdi muita coisa na vida por essa escolha, mas aos poucos fui aprendendo a disciplinar meu tempo e a viver assim – explica Carlos, que descobriu que seria escritor lendo gibis e livros da imensa biblioteca do avô, descendente de alemães e holandeses e antigo político da região. – É impressionante dizer isso, mas hoje eu consigo viver de literatura.

A vocação virou ofício, desses que pagam a conta de luz, há cerca de dois anos. Antes, Carlos trabalhava em hotéis em Balneário Camboriú, e muitos dos seus autores favoritos hoje, como Mario Benedetti, descobriu pelos livros deixados por turistas nos quartos. Em 2010, já com uma boa prateleira volumes publicados, ele ganhou a Bolsa Funarte de Criação Literária, que originou o romance “A mulher sem qualidades” (no prelo). No mesmo ano, faturou o Premio Clarice Lispector, da Fundação Biblioteca Nacional, como o melhor livro de contos do ano, por “As certezas e as palavras”. A partir de então, passou a ser convidado a ministrar oficinas e organizar eventos literários em Santa Catarina.

A última boa notícia veio há pouco mais de um mês, quando foi selecionado para integrar a antologia da Lettrétage, fundação cultural alemã, que peneirou 20 escritores brasileiros para uma publicação especial a ser lançada na Feira de Frankfurt de 2013, ano em que o Brasil será o país homenageado do evento.

Sua rotina é atribulada: pela manhã, lê cerca de 10 jornais entre nacionais e estrangeiros, blogs de escritores e sites de cultura, seleciona os melhores textos e tuíta em seu @xroeder , que virou uma espécie de boletim informal de literatura. Pela tarde, organiza oficinas e eventos, e leva o filho, Henrique, de dois anos, à escola. Só pega no braço dos seus personagens à noitinha, com a casa quieta, e com eles vara a madrugada.

- O Jonathan Franzen (um dos convidados da programação oficial da Flip) disse, numa entrevista, que o twitter é imbecilizante. Imbecilizante é dizer isso. Eu moro no interior do Brasil, a internet é a única maneira que eu tenho de não fica ilhado e compartilhar conhecimento – desabafa Carlos, um entusiasta das possibilidades digitais.

Uma das mesas das que participou no sábado, dentro da programação paralela Off-Flip, debateu o tema “Os livros na era digital”.

_ O ponto de vista que eu apresentei na mesa é o de que as pessoas discutem demais o impacto negativo dos livros digitais, se as pessoas vão comprar menos livros, ler menos. Mas poucos se lembram do que podem usufruir dentro deste formato. O digital tem imensas possibilidades para a linguagem de um romance, como a interatividade, o uso do áudio e animação – exemplifica o escritor, que pretende fazer um romance inteiramente pensado para o ambiente web em breve. – Se Cortázar conseguiu fazer no papel o Jogo da Amarelinha, imagina o que ele não faria se tivesse a internet...

Outra mesa que vai participou também no sábado “Escrituras & festas literárias”, o autor debateu um assunto polêmico: o oba-oba em que se transformaram muitos eventos de literatura.

- Acontece uma coisa curiosa: os escritores brasileiros não se leem. O mercado fica tentando buscar o grande autor brasileiro contemporâneo enquanto um não lê o outro. Todo mundo se estapeia por um ingresso de um autor que nunca leu. Pode perceber, principalmente em eventos do porte de uma Flip. Quem lembra os autores que vieram nas edições passadas? – provoca Carlos, que diz preferir as mesas “que sobram ingressos”.

No domingo, às 16h30, Carlos participa da “Conversa de Quadrinhos”, na Casa Clube de Autores, também dentro da Off-Flip, e às 18h participa do lançamento da graphic novel “Ensaio do Vazio”, no Empório da Cachaça, no Centro Histórico, com os ilustradores Diego Gerlach, Pedro Franz, Berliac, Leya Mira Brander e Manuel Depetris. Veja o booktrailer.

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Em tempo, Carlos é o editor de O Escritório.

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